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Maceió/Al, 08 de março de 2025

Colunistas

Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
24/02/2025 às 14:39

O Debate entre Keynes e Friedman: Implicações para a Política de Renda no Brasil

Conforme discutimos em artigos anteriores, as economias ocidentais se deparam com duas correntes econômicas quando o assunto é a condução de suas economias: a escola neoclássica e a doutrina keynesiana. Para os economistas neoclássicos, o mercado é capaz de promover o bem-estar social de uma nação, desde que os agentes econômicos sejam livres para tomar suas decisões. Já os keynesianos defendem o papel do Estado como regulador do equilíbrio econômico do país, utilizando-se de diferentes mecanismos, como política monetária, cambial, fiscal e de renda.

Desde os anos 1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, o Brasil vem adotando o modelo de desenvolvimento nacional-desenvolvimentista, com forte inspiração keynesiana. Exceção feita as políticas assumidas nos governos Collor e Bolsonaro, que seguiram a cartilha dos economistas neoclássica.

O Debate sobre a Teoria de Consumo dos anos 1960/70: Keynes x Friedman

Até os anos 1960/70, os formuladores da política de renda no Brasil seguiam o receituário de J. M. Keynes, que afirmava que o consumo depende principalmente da renda. A taxa de juros, que, segundo os neoclássicos, estimularia a poupança em detrimento do consumo, teria, para Keynes, uma importância apenas secundária. A renda era considerada uma variável que poderia ser elevada. Bastava o governo estimular o aumento da renda do consumidor para que o consumo do país aumentasse.

Em contraponto, em 1957, o economista ultraliberal Milton Friedman, Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1976, introduziu na política de renda a noção de rendimento e consumo permanente. Essa teoria se opõe à função de consumo keynesiana da propensão a consumir.

A Hipótese de Renda Permanente (HRP) - Permanent Income Hypothesis (PIH) - é uma teoria econômica que tenta descrever como os agentes econômicos distribuem o consumo ao longo de suas vidas. Para Friedman, o consumo de um indivíduo em um certo momento é determinado não apenas pela sua renda atual, mas também pela sua renda média de longo prazo. Isso teve um efeito profundo no estudo do comportamento do consumidor e fornece uma explicação para algumas das falhas das técnicas de gerenciamento de demanda keynesianas.

Mesmo que as políticas econômicas sejam capazes de aumentar a renda na economia, para Friedman elas podem não resultar em um efeito multiplicador na economia a partir do gasto incremental do consumidor.

A Hipótese de Renda Permanente questiona a eficácia das políticas de renda dos governos. Para Friedman, não se pode contar que os assalariados gastem suas rendas suplementares. Por exemplo, um indivíduo que recebeu um aumento salarial no final de um ano específico pode adiantar seus gastos investindo essa renda adicional em poupanças. O gasto do consumidor só irá ganhar impulso caso os assalariados estejam otimistas sobre a efetividade de suas rendas futuras. Por outro lado, uma queda na renda não leva necessariamente a uma queda no consumo. Friedman procura explicar este fenômeno usando o conceito das relações no seio familiar. Uma das hipóteses mais amplamente aceitas como explicativas do comportamento real das famílias é a de que estas procuram preservar o consumo das variações da renda corrente, poupando em épocas de abundância e se descapitalizando em épocas de escassez.

O debate sobre políticas de renda no Brasil

O debate sobre políticas de renda no Brasil tem tomado destaque desde sempre. Nos governos Lula I e II, o salário mínimo real cresceu em torno de 6,2% ao ano. Na era Bolsonaro, o salário mínimo real caiu 2% ao ano, voltando a crescer no governo Lula III.

Diante do exposto, você apostaria na manutenção das políticas de renda nos moldes keynesianos ou seguiria as teses neoclássicas?

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