Resumo
Este artigo traz uma breve discussão sobre o fenômeno dos “lobos solitários” —
indivíduos que cometem atos de violência extrema de modo isolado — com ênfase
nos riscos que representam para instituições de ensino. A análise baseia-se nas
contribuições de Steve Hewitt (One-man War), Sethna e Hewitt (Just Watch Us),
Bruce Hoffman (Inside Terrorism) e outros estudiosos do comportamento préataque desses atores. Além de identificar sinais de alerta frequentemente
ignorados, o artigo propõe estratégias de prevenção e intervenção adequadas ao
contexto brasileiro, com atenção especial ao papel da Polícia Civil e à cooperação
entre escolas, famílias e órgãos de segurança pública.
Abstract
This article examines the phenomenon of “lone wolves”—individuals who carry out
extreme violence in isolation—with special emphasis on the risks they pose to
educational institutions. The analysis draws on contributions from Steve Hewitt
(One-man War), Sethna and Hewitt (Just Watch Us), Bruce Hoffman (Inside
Terrorism), and other specialists on pre-attack behavior. In addition to identifying
often-overlooked warning signs, the article proposes prevention and intervention
strategies tailored to the Brazilian context, emphasizing the role of Civil Police and
collaboration among schools, families, and law enforcement.
1. Introdução
Nos últimos anos, o Brasil foi impactado por atos de violência extrema em escolas,
cometidos por indivíduos que agiram sozinhos — muitos motivados por ideologias
extremistas, vingança, desequilíbrio psíquico ou busca por notoriedade. Esses
autores, classificados como “lobos solitários” na segurança pública, representam
um desafio complexo para as autoridades, especialmente pela ausência de
vínculos formais com grupos terroristas ou criminosos. A literatura internacional
tem avançado na identificação do perfil desses indivíduos, seus modos
operacionais e, principalmente, os sinais comportamentais de alerta que, se
reconhecidos precocemente, poderiam evitar tragédias. Este trabalho tenta fazer
uma sucinta sistematização desse conhecimento e propõe medidas concretas
para o contexto brasileiro.
2. Conceitos e perspectivas do FBI, ONU, INTERPOL e EUROPOL sobre “Lobos Solitários”
2.1. Conceito de “Lobo Solitário”
Refere-se a indivíduos que cometem atos violentos ou terroristas de forma independente, sem orientação ou apoio direto de grupos terroristas, sendo crucial para agências de segurança compreenderem a natureza singular desses atores.
2.2. FBI
Define lobos solitários como pessoas que praticam terrorismo motivadas por ideologias extremistas, geralmente de forma autônoma, com planejamento próprio e difíceis de identificar, dada sua ausência de vínculo direto com grupos organizados.
2.3. ONU
Destaca o crescimento da violência individual extremista e recomenda abordagens multidimensionais — incluindo monitoramento, intervenção, programas de desradicalização e atenção à comunicação online.
2.4. EUROPOL
Aponta que lobos solitários tendem a agir por impulso — movidos por emoções intensas como raiva ou desejo de vingança — e ressalta a importância da cooperação mundial e do monitoramento de mídias sociais.
2.5. INTERPOL
Enfatiza o impacto desproporcional desses ataques em locais públicos e defende a coordenação entre forças policiais globais, além de programas de conscientização para o público em geral.
3. O fenômeno do Lobo Solitário: contribuições de Steve Hewitt
No livro One-man War: A History of Lone-actor Terrorism in Canada, 1868–2018, Steve Hewitt apresenta uma análise histórica desses episódios no Canadá, demonstrando que tais atos não são recentes nem restritos a ideologias específicas. São geralmente precedidos por longos períodos de isolamento, planejamento e consumo de conteúdo extremista online. Em coautoria com Christabelle Sethna no livro Just Watch Us, Hewitt critica a vigilância excessiva sobre movimentos sociais legítimos em detrimento do monitoramento eficaz de indivíduos com real potencial violento, propondo uma estratégia qualificada e orientada por risco.
4. Sinais de alerta ignorados: Hoffman, Sageman, Borum e Meloy
• Bruce Hoffman, em Inside Terrorism (2006), analisa que quase todos os ataques de lobos solitários foram precedidos por comportamentos perturbadores ou hostis ignorados por pessoas próximas, como declarações e atitudes públicas preocupantes.
• Marc Sageman, em Understanding Terror Networks (2004), identifica três fases da radicalização: alienação, afiliação e ação, muitas vezes precedidas por sinais sutis, como mensagens ou transformações visuais e comportamentais.
• Randy Borum (2010), ao apresentar modelos de avaliação de risco, destaca quatro categorias de alerta: ideação violenta persistente; identificação com executores anteriores; planejamento logístico; e desumanização das vítimas.
• J. Reid Meloy et al. (2011) introduzem o conceito Pathway to Violence (Caminho para violência), observando uma escalada progressiva — de fascínio por armas e isolamento à formulação de ameaças, com crença em “missão” ou vingança.
5. O que fazer quando os sinais são identificados?
5.1. Em Escolas
• Informar imediatamente a direção e equipe pedagógica;
• Encaminhar avaliação psicológica urgente;
• Notificar a Polícia Civil em casos de ameaça ou posse de arma.
5.2. Com os Pais
• Comunicar de forma transparente e não acusatória;
• Propor reuniões com escola e serviços de proteção à criança;
• Recomendar acompanhamento psicológico/psiquiátrico contínuo.
5.3. Atuação da Polícia Civil
• Investigar histórico digital e social do indivíduo;
• Identificar redes de radicalização;
• Deflagrar investigações em caso de suspeita de crime;
• Cooperar com órgãos jurídicos e educação.
6. Considerações finais
Os ataques de lobos solitários não são eventos isolados ou imprevisíveis; são fenómenos estruturados, com sinais reconhecíveis e fatores de risco mensuráveis. A omissão, seja por escolas, famílias ou autoridades, cria terreno fértil para tragédias. A literatura — Hewitt, Hoffman, Sageman, Borum e Meloy — oferece modelos robustos para o Brasil. A combinação de conhecimento sistematizado, vigilância qualificada e protocolos claros pode reduzir conflitos e evitar novos episódios violentos em ambientes escolares e espaços vulneráveis.
Referências bibliográficas
• Hewitt, S. (2023). One-man War: A History of Lone-actor Terrorism in Canada, 1868–2018. UBC Press.
• Sethna, C., & Hewitt, S. (2018). Just Watch Us: RCMP Surveillance of the Women’s Liberation Movement in Cold War Canada. McGill-Queen’s University Press.
• Hoffman, B. (2006). Inside Terrorism. Columbia University Press. • Sageman, M. (2004). Understanding Terror Networks. University of Pennsylvania Press.
• Borum, R. (2010). Understanding Lone-Actor Terrorism. Journal of Strategic Security, 3(4), 12–32.
• Meloy, J. R., et al. (2011). The Role of Warning Behaviors in Threat Assessment. Behavioral Sciences & the Law, 29(4), 414–427.
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