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Maceió/Al, 14 de março de 2025

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Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
22/05/2024 às 17:46

A Economia da Penúria: as lições do economista húngaro Janos Kornai

As razões do colapso das economias socialista do leste europeu parecem não ter despertado grande interesse entre os economistas ocidentais. De fato, a academia procurou elaborar instrumentos muito mais voltados a integrar essas economias ao mundo capitalista, sem procurar entender o fenômeno do afundamento das economias socialistas.

Dois principais economistas foram exceções a essa regra, prevendo o esgotamento das economias socialistas: o francês E. Todd e o húngaro J. Kornai.

Aos 25 anos, em 1976, E. Todd publicou a obra “A queda final: a decomposição do sistema soviético”. Nesse ensaio, através da elaboração de uma análise bem estruturada da economia soviética, o autor projetava o desmembramento da antiga URSS baseado em dados demográficos (bônus populacional e taxa de mortalidade). Acertou no resultado e acabou ficando conhecido como o historiador que prognosticou o fim do império soviético.

O economista J. Kornai, ainda em 1980, publicou o clássico “Economics Shortage” (Economia da Penúria), onde projeta uma análise impiedosa sobre falência do modo de produção da economia soviética. Nessa obra, Kornai reconhece que a economia socialista soviética havia obtido resultados exitosos indiscutíveis ao longo da sua implantação, mas estava condenada a entrar em colapso, por ser alicerçada num sistema gerador de “penúria”. J. Kornai foi o mais notável economista da região socialista e pós-socialista dos últimos 50 anos. Foi um acadêmico de renome mundial que lecionou nas principais universidades americanas e europeias. A sua teoria do desequilíbrio numa economia centralmente planificada, o conceito de restrições de “demanda" e de “escassez” foram de fundamental importância para a interpretação da produção nas economias socialistas estatais.

ECONOMIA DA PENÚRIA

Kornai se apoiou na premissa de que o sistema das economias capitalistas ocidentais tem como fator limitador a “demanda”. As empresas capitalistas estão estruturadas no princípio de obter melhor resultado (lucro), limitado a uma demanda (procura) estabelecida. Em não obtendo o resultado esperado (lucro) as empresas estão destinadas a falir, reduzir custos ou a dispensar os seus empregados.

As economias socialistas, segundo Kornai, ao contrário das economias capitalistas, têm como fator limitador as “fontes de recursos”. As empresas pertencem ao Estado, elas não falem e os seus empregados não têm preocupação com desemprego. O seu intento é atender o seu plano de produção fixado pelo Governo Central.

Enquanto o sistema “capitalista” conhece apenas limitações de venda (absorção) dos seus produtos no mercado, o sistema “planificado” só apresenta limitações de recursos ou insumos. As economias socialistas estavam condenadas a perda de competitividade.

COMPORTAMENTO DO COMPRADOR

Kornai descreve os comportamentos possíveis e resultados individuais que podem ocorrer face a uma ECONOMIA DE ESCASSEZ.

Numa “economia de mercado” quando o produto solicitado pelo consumidor está em quantidade limitada, geralmente essa situação é resolvida através do aumento do preço, levando a diminuição do apite de compra para esse item (lei da oferta e da procura) e incentivando novos entrantes nesse mercado.  Todavia, numa “economia socialista”, em situação de escassez, os consumidores partem para a formação de filas, não se incentivando a ampliação da oferta desse produto.

Para Kornai, a economia de penúria vai automaticamente se autoalimentar. A penúria gera penúria, razão pela qual, na sua obra, Kornai conclui que as economias socialistas tenderiam a se exaurir.

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