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Maceió/Al, 09 de novembro de 2024

Colunistas

Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
19/08/2024 às 16:04

Entender as teorias do comércio internacional num mundo globalizado e polarizado: uma síntese

Antecedentes

Até o século XVIII - época em que ocorria a consolidação do absolutismo, o nascimento dos primeiros estados europeus e a expansão do comércio entre nações - as teorias dominantes do comércio exterior entre países derivavam apenas da doutrina mercantilista, segundo a qual uma nação era tanto mais rica, quanto maiores fosse o tamanho da sua população e seu estoque de metais preciosos.

A regra era que os países deveriam explorar suas riquezas provenientes dos seus metais preciosos e realizar trocas em situações vantajosas. O comércio internacional era somente justificado pela oportunidade de se obter um excedente na balança comercial.

J. Locke, um dos principais pensadores mercantilistas, afirmava que “só existia dois meios de aumentar a riqueza de um país: extraindo suas próprias minas ou obtendo em outros países”.

A partir do século XIX, a teoria do livre comércio passa a influenciar as teses do comércio internacional, dando o surgimento as teorias clássicas.

Teorias Clássicas do Comércio Internacional

As teorias baseadas no livre comércio, também conhecidas como Teorias Clássicas do Comércio Internacional, procuraram sistematizar o funcionamento do comércio internacional e influenciar a economia moderna, se articularam em três pilares teóricos: Teoria das Vantagens Absolutas, Teoria das Vantagens Comparativas e Teorema Heckscher-Ohlin-Samuelson.

Essas teorias trazem a visão de como o comércio internacional, as importações e exportações, influenciam o comportamento da economia de um país.

Teoria das Vantagens Absolutas

No ano de 1776, Adam Smith publica o clássico A Riqueza das Nações, onde apresenta sua Teoria das Vantagens Absolutas como base do comércio internacional. Nessa obra, Smith apresenta uma crítica ao pensamento mercantilista, que atribuía que a riqueza está relacionada à quantidade de metais preciosos existentes no território de um país, ao tempo que demonstra como as diferentes nações lucram quando se especializa num determinado setor da economia.

Para Smith, o Estado não deveria intervir na economia, deixando que os mercados se autorregulassem, através da existência da “mão invisível” do mercado.nSegundo o autor, cada país deveria se especializar na produção de bens em que possuísse maior eficiência, ou seja, a um custo menor.

Teoria das Vantagens Comparativas

A Teoria da Vantagem Comparativa foi apresentada por David Ricardo, em 1817, na publicação Princípios de Economia Política e Tributação. Nessa obra o autor busca explicar que o comércio internacional será sempre vantajoso, mesmo quando um país não possuísse vantagem absoluta em relação ao outro na produção de algum produto.

A teoria de Adam Smith também foi criticada. Segundo Ricardo, não é o princípio da vantagem absoluta que determina a direção e a possibilidade de um país se beneficiar do comércio externo, mas a vantagem comparativa. A vantagem comparativa reflete o custo de oportunidade relativa e não absoluta.

Teoria de Heckscher-Ohlin-Samuelson

A Teoria de Heckscher-Ohlin-Samuelson, também chamada de Teorema HOS, busca explicar a causa do comércio internacional. Foi desenvolvido pelos economistas suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin em 1970, e rendeu o Prêmio Nobel da Economia de 1977. Essa teoria enfatiza a inter-relação entre dois fatores de produção capital e trabalho em diferentes proporções em cada país.

Diferentemente da Teoria das Vantagens Absolutas e da Teoria das Vantagens Comparativas, que consideravam que a produtividade do trabalho era o único fator que diferenciava o comércio dos países, para o Teorema HOS, as trocas internacionais são explicadas por outros fatores como terra, capital e recursos minerais, por exemplo.  Cada país deve se especializar na produção de bens intensivos no fator de produção - terra, capital e recursos minerais – mais abundante em seu território e, por sua vez, importará aquele bem que exigir a utilização do fator mais escasso em seu território.

 Contribuições de F. List e N. Kaldor

Mesmo defendendo as teorias clássicas do comércio exterior, Friedrich List e Nicholas Kaldor apresentaram contribuições para o aperfeiçoamento desses modelos.

O alemão F. List defendeu a implementação de barreiras alfandegárias para facilitar o surgimento e desenvolvimento da indústria nacional. Mais tarde, o húngaro N. Kaldor preconizou a necessidade de se implantar política fiscal diferenciada para proteger as empresas que apresentarem baixo nível tecnológico.

Modelo de S. Linder

O economista sueco Staffar Linder, através de uma publicação de 1961, mostrou que a teorema HOS serve para explicar muito bem o comércio internacional de produtos primários, todavia não é apropriado para justificar o comércio de produtos industrializados. Para o autor, a estrutura de comércio exterior dos países industrializados não deve levar em conta a produtividade dos fatores de produção, mas o seu nível de renda per capita: os países de renda per capita mais elevada tenderiam a consumir maior quantidade de produtos sofisticados. S. Linder afirmava que os americanos, europeus e a elite brasileira, por exemplo, só compram carros alemães porque eles são alemães (status social, imagem da marca, etc).

Modelo de R. Vernon

Uma nova vertente teórica de comércio exterior é a teoria do ciclo do produto, que foi elaborada pelo norte-americano Raymond Vernon (1972). A idéia central dessa corrente é que as condições de comércio não são imutáveis, dependem do ciclo de vida dos produtos, que passam por estágios distintos – desenvolvimento, crescimento, maturidade e declínio – e, portanto, em cada uma dessas fases influenciam suas vendas, lucratividade e estratégias de marketing. Para o autor, a inovação de produtos ocorre principalmente nas economias mais avançadas e desenvolvidas, porque esses países possuem disponibilidade de engenheiros e profissionais treinados e empreendedores interessados, que irão concentrar seus esforços na produção de bens e serviços que porventura apresentem uma demanda insatisfeita.  

Assim, a partir do momento em que a demanda por esses novos bens se torne atrativa no exterior, o país é instado a exportar esses produtos. Para Vernon, entender a adaptação às mudanças nas demandas dos consumidores e no mercado nacional e internacional é fundamental para garantir o sucesso do comércio internacional do produto.

Por fim, podemos considerar que o comércio internacional está deixando de ser uma negociação entre países e tornando-se um negócio intersetorial. Os verdadeiros autores do comércio externo são cada vez mais empresas e cada vez menos países. Estudos mostram que as recentes medidas protecionistas adotadas pelo ex-presidente Donald Trump contra a China e a Comunidade europeia, por exemplo, praticamente não afetaram a balança comercial desses países, devido principalmente a manutenção do comércio entre as empresas.

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