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Maceió/Al, 16 de setembro de 2024

Colunistas

Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
30/08/2024 às 10:18

A economia brasileira na era FHC (1994-2002): a efetivação do tripé macroeconômico

Conforme visto no artigo sobre o plano Real, o ano de 1994 marcou uma mudança de longo alcance na economia retratada pelo sucesso neutralização da inércia inflacionária brasileira. De fato, após a implantação de uma série de planos de estabilização fracassados, desde os anos de 1980, o Plano Real conseguiu conter da expansão do nível dos preços no Brasil, que já estava caracterizada como um processo hiperinflacionário.

Assim, a era FHC (1994-2002) entra para a história como um período de grandes mudanças na economia, caracterizada, não somente, pela estabilização monetária, como também pela abertura comercial e financeira, as crises cambiais e a introdução do tripé macroeconômico, mecanismo criado no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1999, e que define a política econômica praticada no país ainda hoje, para se referir ao “regime de metas de inflação, câmbio flutuante e equilíbrio das contas públicas.”

Primeiro mandato FHC

A estratégia adotada inicialmente para obter a neutralidade dos preços foi a equiparação dos preços domésticos aos preços internacionais, utilizando-se como mecanismo a apreciação da taxa de câmbio. Assim, no período de 1995 a 1998, o esforço de estabilização tornou-se exitoso, porém trouxe consigo desequilíbrios fiscais e externos para a economia. Ver tabela abaixo a série temporal com o comportamento da inflação e do PIB brasileiro:


Desequilíbrios no primeiro mandato

A balança comercial que registrava um saldo positivo de U$ 15,3 bilhões, em 1993, passou a contabilizar um déficit médio anual de - U$ 5,2 bilhões no período de 1995 à 1998. Em outra, as reservas internacionais do país que somavam U$ 60,1 bilhões, em 1996, despencam para U$ 44,5 bilhões, em 1998.

Destacamos que a economia brasileira somente suportou esse desequilíbrio, pois havia excesso de liquidez na economia mundial, gerados principalmente nos países emergentes. O país aproveitou-se da abundância de capitais internacionais para financiar os déficits crescentes em sua conta corrente, decorrentes da mudança cambial, bem como da redução das alíquotas de importação. O desequilíbrio fiscal torna-se eminente.

Entre as iniciativas adotadas para enfrentar a crise fiscal do primeiro mandato FHC, as mais importantes vieram da proposta de emenda constitucional – as Reforma da Previdência e Reforma Administrativa; da lei que possibilitou o refinanciamento de dívidas estaduais e municipais e do ajuste patrimonial ocorrido por meio de privatizações.

Neste sentido, pode-se considerar que a política econômica do primeiro mandato de FHC foi bem sucedido no tocante à consolidação da estabilidade de preços e no ajuste do Estado, todavia, a dívida pública brasileira apresentou crescimento importante e o passivo externo mostrou-se insustentáveis.

Segundo mandato FHC

Os efeitos negativos da crise cambial, em 1997, iniciada nos chamados Tigres Asiáticos impactaram diretamente as três principais economias emergentes – Brasil, México e Rússia - provocando três consequências: fuga de capitais investidos no mercado financeiro, desvalorização de várias moedas nacionais em relação ao dólar e a deterioração da situação fiscal do Brasil. No final de 1998, a situação da economia brasileira mostrava sinais de esgotamento.

Em 1999, um importante passo foi dado pelas autoridades monetárias na direção da reversão dos desequilíbrios decorrentes da crise asiática e da dívida pública. O Banco Central do Brasil optou por abandonar o regime de bandas cambiais e o Real começou a flutuar livremente, o que provocou, naquele ano, um tríplice mudança na política econômica, envolvendo os regimes cambial, monetário e fiscal:

·  O regime de câmbio fixo, flexibilizado pelas bandas cambiais, foi substituído por uma flutuação, na qual o Banco Central passou a intervir na venda de reservas e ofertar títulos públicos indexados à taxa de câmbio;

·  O sistema de metas inflacionárias foi adotado, substituindo o regime monetário atrelado ao dólar;

·  A política fiscal passa a ser regida para que o superávit primário gerado, deve ser suficiente para produzir a estabilização da razão entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB).

A principal alteração, com efeito retomada de confiança na economia, foi a introdução do Plano de Estabilidade Fiscal que passou a estipular o patamar de superávit primário do setor público necessário para a estabilização da razão dívida/produto. Como consequência, a partir de 2001, o déficit total do setor público passou a diminuir.

A reforma do estado tem continuidade, nesse segundo mandato, com especial destaque a aprovação do novo arcabouço institucional e operacional das finanças públicas do país - Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 04/05/2000) - que estabeleceu normas e critérios para o equilíbrio das contas públicas e a gestão responsável dos recursos financeiros dos entes federativos (União, estados e municípios). Além disso, foi possível aprovar o Fator Previdenciário do INSS e uma parte da Reforma Administrativa.

Assim, a economia brasileira começa a dar sinais de recuperação da crise já no final de 1999, surpreendendo as previsões da maioria dos analistas econômicos. Além disso, não houve ruptura na rolagem da dívida pública, o PIB se mante no mesmo nível de crescimento dos anos anteriores e a inflação acumulada, em doze meses, se estabelece em um dígito. Com isso, após a recuperação da crise cambial, verificou-se um período de relativa estabilidade financeira do Brasil durante os anos 2000.

De um modo geral, podemos destacar que o primeiro período FHC trouxe a conquista da estabilidade de preços e a promoção de um novo marco regulatório nos segmentos de infraestrutura do país, enquanto que o segundo mandato marcou o restabelecimento de políticas monetária e cambial mais equilibradas, o chamado tripé macroeconômico, que criaram as condições para o Brasil ter uma posição mais estável junto ao mercado internacional de capitais, associados à maior exposição da economia ao mercado mundial.

O que você acha do desempenho da economia brasileira na era FHC?



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