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Maceió/Al, 16 de setembro de 2024

Colunistas

Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
06/09/2024 às 11:32

Crescimento econômico e a teoria do capital humano

Antecedentes

Até o final dos anos 1950, a maioria dos economistas adotavam o trabalho e o capital como sendo os fatores determinantes do crescimento. Para eles, os agentes econômicos usavam esses fatores combinados para gerar a produção de bens e serviços, que por sua vez, pavimentava um processo de desenvolvimento.

Segundo a teoria econômica vigente a época, para um país adotar uma trajetória de crescimento bastava apenas elevar a quantidade de mão-de-obra disponível, o estoque de equipamentos ou ambos. Cada nação se valia da melhor vantagem competitiva dos seus fatores de produção disponível – capital e trabalho - para promover seu desenvolvimento. Nos séculos XVIII e XIX, por exemplo, o Brasil, por não dispor de um parque industrial, se utilizou do trabalho (da escravidão e da imigração) para imprimir sua política de desenvolvimento. Os países europeus, em outra, se beneficiaram do capital (revolução industrial) para impor sua estratégia de crescimento.

Coube ao economista americano P. Douglas e o matemático C. Cobb, em 1928, baseado numa equação desenvolvida pelo economista sueco K. Wicksell, desenvolverem a famosa Função de Cobb-Douglas, que representa a relação entre dois - trabalho e capital – fatores e serve para mensurar a produção (PIB) de um país.

Destacamos que, mesmo desenvolvido a quase 100 anos, o emprego do modelo da função Cobb-Douglas não se restringe apenas à teoria do crescimento econômico, mas se estende para campos da macroeconomia, análises microeconômicas, na teoria da firma e do consumidor, entre outros.

Teoria do capital humano

O conceito de capital humano tem sua origem ligada ao surgimento da disciplina Economia da Educação, nos Estados Unidos, em meados dos anos 1950. T. Schultz, professor do departamento de economia da Universidade de Chicago à época, foi quem empregou pela primeira vez esse conceito. Três anos depois, G. Becker, que ganhou o Prémio Nobel da Economia em 1992, sistematizou essa teoria enquanto ciência econômica.

Antes do surgimento da teoria do capital humano, a maioria dos economistas reconhecia que a competência da “força de trabalho” de um país era representada apenas pela quantidade de mão-de-obra empregada na produção. A principal contribuição dada por T. Schultz e G. Back, a essa teoria, foi explicar que investir no “fator humano” se traduzia em os ganhos de produtividade do PIB. O capital humano de um país, quando qualificado por meio da educação, era um dos mais importantes meios para se obter a ampliação da produtividade econômica, e, portanto, das taxas de lucro do capital da economia. Não basta ter quantidade do “fator humano”, mas investir na qualidade do mesmo. Essa teoria, aplicada ao campo educacional influenciou a concepção tecnicista sobre o atual sistema de ensino e organização da educação brasileira.

Para os autores, a aquisição de competências das pessoas influencia no comportamento da oferta do mercado de trabalho, elevando a uma remuneração dos trabalhadores. Indivíduos mais qualificados estão dispostos a passar por um período mais longo de inatividade, enquanto esperam por uma oferta de emprego que atenda às suas aspirações. De acordo com a OCDE, o capital humano constitui um ativo intangível que pode promover ou apoiar a produtividade, a inovação e a empregabilidade.

Atualmente, a teoria do capital humano tem sido um dos grandes temas estudados em termos de políticas públicas, notadamente quando se aborda a questão do crescimento econômico, o aumento do desemprego e a polarização dos rendimentos, por exemplo.

Desenvolvimento do capital humano, fonte de crescimento

A análise macroeconômica tem demonstrado que o capital humano representa um importante fator de crescimento. Num estudo apresentado em 1992, os economistas G. Mankiw e D. Weil, juntamente com o prêmio Nobel da economia P. Romer (2018), mostraram que as diferenças no capital humano existentes entre os países ajudam a explicar, em grande parte, os diferentes estágios de crescimento econômico ente as nações: os países mais ricos apresentam um grau elevado de capital humano. De fato, estudos produzidos nesse campo abriram caminho para o surgimento da atual teoria do crescimento endógeno.

Em outra, estudos da OCDE comprovam que, se o tempo médio que cada pessoa dedica à educação aumentar em um ano, espera-se que o PIB per capita desse país aumente, no médio prazo, entre 4 a 6 por cento. Por fim, há inúmeros exemplos a serem destacados mostrando a importância do capital humano.

Na sua opinião, a raiz do atual estágio de desenvolvimento de Alagoas está no fato do estado possuir um dos piores índices de capital humano, representado pelo seu baixo desempenho de alfabetização?

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