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Maceió/Al, 05 de fevereiro de 2025

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Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
01/02/2025 às 08:52

O poder da escolha e a lógica do lucro: A “Economia Neoclássica” e o Projeto Liberal Brasileiro

Antecedentes

A década de 1870 testemunhou a publicação de três tratados econômicos revolucionários que deram origem à Escola Neoclássica. Em 1871, Carl Menger lançou "Princípios de Economia", enquanto William Stanley Jevons publicou "Teoria da Economia Política". Três anos depois, em 1874, Léon Walras desenvolveu a base teórica do pensamento neoclássico em "Elementos de Economia Política Pura".

Esses economistas têm em comum o individualismo metodológico, descrevendo o comportamento do consumidor e destacando a oferta e demanda como forças motrizes para determinar níveis de produção, preços e consumo de bens e serviços. O surgimento dessa teoria coincide com o aparecimento da teoria do comportamento racional, que afirma que as pessoas agem racionalmente ao tomar decisões econômicas.

Para os neoclássicos, a sociedade não está dividida em classes sociais, mas simplesmente constituída por indivíduos cujo comportamento individual deve ser levado em conta. Para eles, o consumidor atua no mercado no sentido de maximizar o seu lucro, mesmo considerando suas restrições orçamentárias.

Uma nova teoria do valor

Os economistas neoclássicos substituíram a teoria marxista do valor-trabalho por uma nova abordagem subjetiva, fundamentada no valor utilitário. Segundo essa perspectiva, o valor dos bens não é determinado pelo custo do trabalho empregado em sua produção, mas pela satisfação ou utilidade que o bem proporcionam ao consumidor, ou seja, a percepção do indivíduo sobre o valor de um produto é o fator determinante de seu preço. A utilidade marginal, ou seja, a satisfação gerada pela última unidade consumida de um bem, é o fator determinante de seu valor. Com isso, a escola neoclássica resolve o paradoxo de Adam Smith: a água, essencial à vida, é relativamente barata devido à sua baixa utilidade marginal, enquanto diamantes, não essenciais, são valorizados por sua alta utilidade marginal.

Economia neoclássica na prática

Os princípios da economia neoclássica podem ser usados pelas empresas para definir preços e expandir seus negócios.

Um empresário neoclássico, por exemplo, vai definir seu preço levando em consideração o preço praticado pelos seus concorrentes. Todavia, na busca de maximizar seus lucros, ele cria campanha de marketing para posicionar seu produto como a escolha favorita das pessoas. Ao influenciar a percepção do cliente sobre sua marca, o negociante será sempre capaz de cobrar mais por seus produtos, aumentando seus lucros.

Teoria do equilíbrio geral

Em sua obra "Elementos de Economia Pura" (1874), um dos pais da teoria neoclássica, Léon Walras desenvolveu a Teoria de Equilíbrio Geral, demonstrando que, em um sistema econômico com mercados independentes e concorrência pura e perfeita, existe um sistema de preços que equilibra a demanda com a oferta. O modelo de equilíbrio geral de Walras apresenta solução única e estável.

Vilfredo Pareto ampliou essa teoria, demonstrando que a alocação de recursos no equilíbrio walrasiano garante uma situação de "ótimo de Pareto". Nessa situação, qualquer realocação de recursos para melhorar o bem-estar de um indivíduo, vai prejudicar o outro.

Teoria: do equilíbrio parcial

Alfred Marshall (1842-1924), em sua obra Principles of Economics, desenvolveu a teoria do equilíbrio parcial, complementando Léon Walras. Marshall propôs que o equilíbrio geral resulta da soma dos equilíbrios parciais em cada mercado. Essa abordagem analisa cada mercado individualmente, ignorando a interdependência entre eles.

Teoria neoclássica do pleno emprego

Para os neoclássicos, quando não existe instabilidade na economia e o Estado não intervém na economia, o pleno-emprego é sempre alcançado. Para eles, não existe desemprego duradouro, pois, devido a racionalidade dos agentes econômicos – consumidores e produtores - o mercado cria automaticamente um equilíbrio entre a oferta e a demanda de trabalho.

A condição de desemprego pontual ocorre quando a oferta de mão-de-obra na economia supera a demanda. Quando isso acontece, vai ocorrer concorrência ferrenha entre os trabalhadores para ocupar um mesmo posto, levando a uma redução dos salários. Com os salários baixos, os empresários têm interesse em contratar mais trabalhadores, restabelecendo o equilíbrio.

Um mundo sem crise econômica

Segundo a teoria neoclássica, a crise de superprodução é impossível de ocorrer, pois a oferta e demanda se equilibram naturalmente no mercado. Isso se baseia na Lei de Say, que afirma que "toda oferta cria sua própria demanda”. Por exemplo, quando o mercado é abastecido por grande quantidade de laranja, o preço da laranja cai. No entanto, quando na falta de laranja, seu preço vai aumentar. Vendendo mais caro ou mais barato, tem sempre alguém demandando as laranjas ofertadas.

Os neoclássicos consideram o dinheiro apenas um meio de troca, sem qualquer intervenção na economia real.

Reflexão

Você acredita nas premissas dessa escola que é tanto defendida pela "nova direita brasileira"? 


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