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Maceió/Al, 09 de março de 2025

Colunistas

Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
12/02/2025 às 18:20

A política econômica de Trump e a teoria da “troca desigual”: uma reflexão

As décadas de 1960 e 1970 foram notabilizadas, especialmente, por um período no qual grande parte das preocupações dos economistas voltou-se para a questão das desigualdades, seja no que se refere ao comércio internacional, seja quanto ao desenvolvimento econômico de modo geral. Economistas de inspiração marxistas, a exemplo de Samir Amin e Arghiri Emmanuel, passam a questionar fortemente a visão liberal, predominante à época, sobre o subdesenvolvimento descrita por Walt Rostow.

Ideia liberal vigente à época

Segundo Rostow, todos os países subdesenvolvidos precisavam alcançar inicialmente a etapa de decolagem (take-off), considerada a etapa que marca a transição de uma economia atrasada para uma economia industrial. Numa primeira etapa, os países subdesenvolvidos, cuja base produtiva era sustentada em produtos agrícolas e de alto emprego de mão-de-obra, perderiam quando da troca com os países desenvolvidos industrialmente, porém logo desenvolveriam o seu parque industrial, atingindo um consumo em massa, equilibrando as trocas entre eles. Para ele, o estágio de subdesenvolvimento de um país seria apenas uma etapa para se chegar ao desenvolvimento.

A tese de Rostow está estruturada em cinco etapas do desenvolvimento econômico: sociedade tradicional, pré-condições do arranco, arranco, fase da maturidade e consumo em massa. Segundo Rostow os países subdesenvolvidos precisam passar inicialmente a etapa de decolagem (take-off), considerada a etapa que marca a transição de uma economia atrasada para atingir uma economia industrial desenvolvida. Nessa fase, vai ocorrer a troca desigual.

A reação dos marxistas

Para outros, como Henri Denis, Arghiri Emmanuel, Charles Bettelheim, Samir Amin e Christian Palloix, vai existir, sim, a troca desigual no sistema capitalista, perpetuando, assim, um processo de subdesenvolvimento nos países periféricos. Para eles, o subdesenvolvimento é fruto da exploração histórica e contínua realizada pelos países desenvolvidos face aos países em vias de desenvolvimento. Na verdade, essa exploração se configura como uma forma de neocolonialismo, na qual os países ricos mantêm a sua hegemonia econômica e política sobre os países pobres, sem necessariamente recorrer à colonização formal.

Trump e o neocolonialismo

O recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o seu plano de relançar a economia dos EUA. Para atingir o seu intento, Trump disse que irá incorporar o Canadá, tomar o Canal do Panamá e a Groenlândia e que pretende "assumir" a Faixa de Gaza. Apesar das falas, não houve nenhum movimento concreto por parte do republicano. Trump também rebatizou o Golfo do México para "Golfo da América".

Como política comercial, Trump oficializou, entre outras, a adoção de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio feitas por todos os países. Existe a ameaça de ampliara o “tarifaço” para outros produtos, inclusive brasileiros.

O caso Brasil

Os Estados Unidos representam hoje o segundo maior parceiro comercial do Brasil, ficando abaixo apenas da China. Para se ter uma ideia, em 2024, O Brasil exportou U$ 40,3 bilhões e importou U$ 40,5 bilhões, provocando um déficit de U$ 300 milhões na balança comercial brasileira. O Brasil vem mantendo, nos últimos anos, as balanças de serviço e de pagamento (remessa de lucro) deficitária. Além disso, o principal produto exportado pelo Brasil para os Estados Unidos são petróleo bruto, seguido por produtos semiacabados de ferro e aço, aeronaves e café não torrado. Em outra, o Brasil importou dos americanos produtos industrializados e processados, principalmente motores e máquinas, e aeronaves, entre outros. Uma vez efetivada, essas medidas adotadas pelo governo americano, só tem a deteriorar o desempenho da nossa economia.

Reflexão

Pelo que se observa, caso não haja uma reação em cadeia por parte dos países afetados, podemos assistir a um aprofundamento das 'trocas desiguais' entre os EUA e o resto do mundo.

No seu ponto de vista, será que os economistas marxistas dos anos 1960-70 estavam certos em criticar as desigualdades sociais e econômicas geradas pelo capitalismo liberal?

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