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Maceió/Al, 19 de abril de 2025

Colunistas

Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
17/04/2025 às 10:05

Desenvolvimento e Inclusão Social em Alagoas: A Experiência do Governo Ronaldo Lessa (1999-2006)

Quando Ronaldo Lessa assumiu o governo do Estado pela primeira vez, em janeiro de 1999, os dados mostravam que o setor público estadual estava estagnado. Obras paralisadas, maior dívida pública proporcional entre as demais unidades da Federação, mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país e piores taxas de mortalidade infantil, maiores taxas de analfabetismo e exclusão social do país, entre outras. Em razão da sua falência fiscal, Alagoas tornou-se inadimplente e deixou de manter relações com outras esferas de poder, perdendo credibilidade junto ao Governo Federal.

A situação de Alagoas era de extrema penúria, tornando imperativo realizar um ajuste fiscal para equilibrar as contas públicas. Ao mesmo tempo, era imprescindível desencadear o ajuste social, visando construir instrumentos de combate à desigualdade e promover a inserção do alagoano no campo da cidadania. Era preciso arrumar a casa, garantir o pagamento em dia dos servidores, criar uma ambiência de estabilidade e preparar o caminho para o desenvolvimento.

Nesse artigo, apresentamos as principais ações empreendidas durante o governo de Ronaldo Lessa, que resultaram em impactos positivos na socioeconomia alagoana, traduzindo-se numa verdadeira revolução econômica, social e administrativa em Alagoas.

Ajuste fiscal e agenda econômica

Logo no início do governo Ronaldo Lessa, empreendeu-se um exitoso programa de ajuste fiscal nas contas públicas. Ao cabo de dois anos, Alagoas saiu do quadro de inadimplência, o que possibilitou o início da retomada de novos investimentos públicos e a busca por seu crescimento.

Vale ressaltar que, concomitantemente à implantação do programa de ajuste fiscal, o governo implementou um rigoroso planejamento econômico. Esse instrumento foi essencial para que Alagoas voltasse a participar da Agenda Nacional, da qual estava ausente há mais de 20 anos.

Com a credibilidade alcançada, o Estado desenvolveu uma agenda de articulações periódicas com instituições financeiras, incluindo representantes do Banco do Nordeste, Banco Mundial, BID, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Além disso, foi instituída uma outra agenda com representantes das entidades produtivas locais, como a Federação da Indústria do Estado de Alagoas (FIEA), a Federação do Comércio do Estado de Alagoas (Fecomércio), a Associação Comercial de Maceió (ACM) e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). O objetivo principal dessas articulações era discutir proposições voltadas para o desenvolvimento do estado de Alagoas.

Assim, iniciou-se uma nova fase para Alagoas, marcada por uma maior integração com instituições financeiras e produtivas, visando impulsionar o crescimento econômico do estado.

A estruturação do Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social (CONEDES) e a implementação da Lei de Incentivos (PRODESIN) foram ações impactantes e contribuíram, também, para Alagoas voltar a rota de desenvolvimento. Essas ações trouxeram celeridade nas análises dos processos empresariais, garantindo incentivos para investidores se instalarem no estado. O PRODESIN, considerado à época a melhor lei de incentivos do Nordeste, ofereceu novas modalidades de incentivos como financeiros, creditícios, locacionais, fiscais e infraestruturais.

Um estudo relevante, realizado pela Secretaria de Planejamento e Sebrae, definiu territórios e arranjos produtivos locais (APL) em Alagoas, destacando a importância do desenvolvimento regional. No entanto, apesar dos avanços obtidos, Alagoas ainda enfrentava um desafio significativo: cerca de 54% de sua população vivia em situação de vulnerabilidade social.

Para enfrentar essa questão, o Estado adotou uma abordagem focada na criação de novas oportunidades, em vez de apenas realizar ações de caridade. Essa estratégia visou promover a inclusão social e reduzir as desigualdades, oferecendo perspectivas mais sustentáveis para a população sob a perspectiva dos APLs.

Obras estruturantes

Alagoas alcançou um marco significativo em sua história com a realização do maior conjunto de obras estruturantes, fruto da cooperação entre o Estado e o governo federal. Dentre essas obras destacam-se a Construção de dois trechos do Canal do Sertão, obra crucial para o desenvolvimento regional, o Centro de Convenções, espaço para eventos que impulsiona o turismo, o Sistema Pratagy, projeto que visa o desenvolvimento sustentável, o Saneamento de Maragogi, melhoria das condições de vida, o Novo Aeroporto Zumbi dos Palmares, expansão econômica.

Com essas ações, Alagoas conseguiu criar um ambiente propício para o desenvolvimento econômico e social, melhorando a vida dos cidadãos.

Ajuste social

Com a implantação da agenda econômica, os indicadores sociais passaram a mostrar resultados favoráveis. Entre 1999 e 2002, Alagoas registrou uma mudança significativa na curva do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), alcançando o segundo maior crescimento do Nordeste em termos de inclusão social.

Nesse período, o Estado saiu da primeira para a quarta posição entre os estados com menores índices de desenvolvimento humano. O relatório do Tribunal de Contas confirmou que Alagoas dobrou seus gastos com saúde e aumentou de forma significante os investimentos em segurança e educação.

Quase 80% do aumento dos custos do Estado foram destinados a essas três áreas, resultando, entre outras, em melhorias nos salários dos policiais, professores e profissionais da saúde.

Entre 1999 e 2006, o Estado registrou avanços significativos na educação e saúde infantil. A oferta de vagas nas escolas públicas dobrou, e o estado alcançou a maior redução da taxa de analfabetismo no Brasil, entre jovens de 10 a 17 anos. Além disso, Alagoas garantiu o maior incremento de crianças de 5 e 6 anos na escola entre os estados do Nordeste.

Entre 1999 e 2002, Alagoas registrou uma redução significativa na taxa de mortalidade infantil, passando de 68,1 para 36,4 óbitos por mil nascidos vivos. Embora ainda fosse considerada alta em comparação com a média nacional, essa redução permitiu que Alagoas alcançasse a média dos estados do Nordeste.

Assim, graças ao esforço conjunto entre diversas instâncias de poder e organizações sociais do Estado, o governo Ronaldo Lessa conseguiu implementar mudanças significativas na vida dos alagoanos. Esse esforço foi reconhecido pela ONU, que destacou Alagoas como tendo a maior taxa de crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no Brasil entre 1999 e 2006, atingindo um impressionante aumento de 18,4%.

Legado da “era Lessa”

Após mais de 20 anos de ausência de estratégias concretas em políticas públicas, marcados por estagnação e retrocessos, a “era Lessa” em Alagoas foi caracterizada por uma nova agenda socioeconômica. Esse período estabeleceu um ambiente de estabilidade e preparou o caminho para o desenvolvimento sustentável do estado, beneficiando futuros governantes.

Alagoas passou por uma transformação significativa durante a “era Lessa”, com um ajuste das contas públicas que permitiu seu retorno à agenda econômica nacional. Ao mesmo tempo, o estado implementou um amplo programa de ajuste social, criando instrumentos importantes para promover a igualdade de gênero e racial, reduzir a desigualdade e ampliar a cidadania para os alagoanos.

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