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Maceió/Al, 14 de novembro de 2024

Colunistas

Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
06/11/2024 às 09:53

As grandes correntes de pensamento econômico: “Estudo economia diariamente, para nunca ser enganado por nenhum economista” – J. Robinson

A economia é a área do conhecimento que busca otimizar a distribuição e o consumo dos bens e serviços produzidos pelo conjunto da sociedade. No entanto, não há consenso metodológico sobre como se obter essa condição. Um grupo de economistas se utilizam dos métodos das ciências exatas para obter seu intento, enquanto que outros economistas partem da investigação do processo social e histórico da sociedade para moldar a melhor forma de distribuição de bens e serviços. Essas metodologias divergentes refletem, por si só, a complexidade que se torna o tratamento dos problemas econômicos, razão pela qual três correntes teóricas dominam hoje o pensamento econômico contemporâneo: liberal (neoclássica), radical (marxista) e keynesiana.

A Escola Liberal, comumente chamada de Neoclássica, defende o individualismo metodológico e a economia de mercado. Ela propõe uma abordagem baseada nas ciências exatas para determinar o valor ideal dos preços das mercadorias. Os neoclássicos acreditam que a concorrência pura e perfeita conduz sempre a uma condição de equilíbrio estável na economia. Já o discurso radical, que fundamenta a Escola Marxista, argumenta que a regulação econômica passa por crises socioeconômicas e que o sistema capitalista está condenado a crises periódicas e a extinção. Por outro lado, a Escola Keynesiana, originada no paradigma keynesiano, reforma as premissas neoclássica e marxista. Para os keynesianos, nem as leis do mercado nem as crises socioeconômicas garantem a condição de bem-estar social. Essa escola defende a intervenção estatal como o único instrumento capaz de estabilizar o sistema econômico.

Não existe um único remédio para se debelar uma crise estabelecida. O remédio vai depender muito mais da escola que o economista representa, do que do diagnóstico do problema econômico gerado. Para o economista neoclássica, basta que os agentes econômicos permitam ocorrer a flexibilização (variação) dos preços dos bens nos mercados para que a economia atinja o seu equilíbrio econômico. O economista keynesiano vai sempre defender a intervenção Estatal como instrumento regulador e pacificador aa economia, enquanto que, o marxista vai negar a possibilidade de se chegar ao bem estar social pelo modo de produção capitalista. Esse artigo é dedicado a esclarecer e aprofundar os fundamentos teóricos dessas três escolas.

Escola Neoclássica

A primeira metade dos anos 1870 foi marcado pela publicação de três importantes obras de economia. Em 1871, ocorreu o lançamento de dois clássicos: Elementos de Economia Política Pura, do inglês W. Jevons e Princípios de Economia Política, do austríaco C. Menger. Três anos depois, em 1874, o francês L. Walras publicou seu mais notável trabalho, Elementos de Economia Política Pura, propondo, igualmente as duas obras anteriores, uma metodologia para se chegar ao equilíbrio econômico, considerando que o valor dos bens são proporcionais a utilidade eles representam aos consumidores. A Teoria Neoclássica vai se construir a partir desse conceito, por esse motivo os três economistas são considerados os fundadores dessa escola. A base do seu desenvolvimento consiste na hipótese de que a economia é constituída por dois agentes – produtores e consumidores – que se encontram no mercado com interesses distintos, porém, sempre buscando maximizar seus interesses/satisfações.

Os neoclássicos são hoje a maioria dos economistas contemporâneos, notadamente, nos EUA e na Europa. Eles acreditam no êxito da economia de “mercado” e no “individualismo” – se cada indivíduo tomar suas decisões com vistas a maximizar sua satisfação pessoal, o ótimo coletivo será atingido automaticamente. A atuação do Estado na economia é desaconselhável.

Escola Marxista

Os trabalhos de K. Marx permeiam diversos campos do conhecimento, indo da História, Sociologia, Antropologia até a Economia. Os fundamentos da Escola Marxista estão em duas de suas obras: Contribuição à Crítica da Economia Política, publicado em 1859, e os volumes II e III de O Capital, publicado pela primeira vez em 1867.

Para K. Marx, o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade média de trabalho utilizado na produção desse bem. O Modo de Produção Capitalista (MPC) é um sistema complexo de produção fundamentado na lei de acumulação pela acumulação, onde existem duas classes – trabalhadores e capitalistas – atuando no processo produtivo de maneira antagônicas. Os capitalistas exploram a classe trabalhadora, se beneficiando de parte do valor-trabalho, mais valia, pertencente a classe trabalhadora.

Como o MPC repousa na exploração de parte da remuneração dos trabalhadores assalariados, a tendência, segundo K. Marx, é que ao longo do tempo a taxa do lucro dos capitalistas venha a desaparecer. Neste caso, o capitalismo está condenado a viver em crises periódicas até a sua extinção.

Escola Keynesiana

A obra Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda de J. M. Keynes, publicação em 1936, é considerado o principal marco da economia keynesiana contemporânea. A partir de então, as políticas econômicas dos países ocidentais passaram a sofrer forte influência das ideias de Keynes. A ONU reformulou o sistema de contas nacionais e o mundo passa a adotar um novo sistema financeiro internacional. Keynes foi, sem dúvida, um dos maiores economistas do século passado e o fundador da macroeconomia moderna.

Ao contrário dos neoclássicos que afirmavam que toda produção encontra naturalmente sua própria procura, J. M. Keynes defendeu que, em situação de crise, deve-se estimular a demanda para fazer a economia girar. Neste caso, somente a intervenção do Estado é capaz de salvar o sistema econômico. Ele defendeu que o Estado intervencionista pode adotar medidas fiscais e monetárias para mitigar as crises.

J. M. Keynes se opôs aos marxistas que preconizaram o fim do modo de produção capitalista. Para ele, a presença do estado na economia aportando políticas assertivas levaria uma nação atingir seu bem estar social.

Diante do que foi exposto, você se identifica com alguma dessas escolas?


Anexo - Correntes Contemporâneas Neoclássicas, Marxistas e Keynesianas

Atualmente a escola neoclássica derivou-se em diversas especialidades, entre elas, destacam-se: Equilíbrio Geral (G. Debreau e K. Arrow); Escola de Viena (F. Hayek e F. Mises); Capital Humano (G. Becker); Escolha Pública (G. Tullock e C. Buchanan); Monetarismo (M. Friedman); Economia da Oferta (A. Laffer e G. Gider); Teoria dos Jogos (J. Von Neumann, e J.  Nash) e Novos Clássicos (R. Lucas e Th. Sargent).

Correntes marxistas atuais e principais representantes: Teóricos do Imperialistas (L. Trotsky, V. Lenine e R. Luxemburg); Radicais Americanos (P. Baran e P. Sweezy); Trotiskistas (E. Mandel); Marxistas do Terceiro Mundo (A. Emmanuel, A. G. Frank e S. Amin; Teoria da Dependência (E. Faleto e FH Cardoso); Marxistas Ortodoxos (Ph. Herzog e P. Boccara) e Regulacionistas (M. Aglieta e R. Boyer e A. Lipietz).

Correntes keynesianas atuais e seus principais representantes: Neokeynesiano (síntese neoclássica) (A. Hansen e J. R. Hicks); Novos Keynesianos (A. Barrere); Teóricos do Desequilíbrio (E. Malinvaud e R. Clower) e Cambridgeanos (J. Robinson, N. Kaldor e P. Sraffa).

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