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Maceió/Al, 22 de dezembro de 2024

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Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
06/12/2024 às 09:48

O problema do “passageiro clandestino” na economia: o paradoxo de Olson e o liberalismo econômico.

O problema do free rider - passageiro clandestino - foi abordado pela primeira vez na tese de doutorado do economista americano Mancur Olson, The Logic of Collective Action, em 1965. Nessa obra, Olson contribuiu para uma mudança radical na análise da ação coletiva dentro teoria neoclássica (liberal). Ele demonstrou que na economia, embora existam interesses coletivos, a mobilização individual nem sempre é suficiente para alcançá-la.

Um free rider é uma pessoa que se beneficia de algo sem gastar esforço. Em outras palavras, frees riders são aqueles indivíduos que utilizam bens sem pagar pelo uso deles. Olson exemplifica a ação de um free rider abordando o movimento sindicalista. Para ele, muitas vezes os trabalhadores, enquanto indivíduo racional, não se interessam de participar de uma greve, visto que, caso o movimento seja vitorioso, ele vai obter as vantagens conquistadas sem precisar entrar em confronto com o patrão. Nesse contexto, os free riders, por exemplo,se beneficiam dos esforços de outros, obtendo ganhos salarias ou melhoria nas condições de trabalho, sem arcar com os custos dessas reinvindicações.

Olson adota o individualismo metodológico para examinar criticamente o funcionamento de grupos e organizações que buscam a aquisição de bens públicos. Ele conclui que a generalização desse tipo de comportamento constitui um obstáculo à gestão eficiente dos bens públicos, especialmente no contexto de políticas de desenvolvimento sustentável, já que os passageiros clandestinos sempre procuram agir na economia se aproveitando dos trabalhos dos outros.

Considerando que os indivíduos de um grupo não agem em prol de um objetivo comum a menos que haja algum tipo de coerção, Olson argumenta que as ações coletivas não seguem a mesma lógica das decisões individuais. Assim, ele rompe com as perspectivas neoclássicas e marxistas do individualismo metodológico. Olson se distancia da teoria neoclássica, que pressupõe que a ação coletiva dos agentes econômicos é o somatório das ações individuais. Pelo contrário, ele enfatizou que os interesses coletivos nem sempre motivam os indivíduos a participar de ações que beneficiem o grupo como um todo. Contrariando a doutrina marxista, Olson acreditava que o indivíduo age sempre priorizando atender seus desejos pessoais, em detrimento aos interesses de classe. Em última análise, Olson demonstra que a agregação de comportamentos individuais racionais frequentemente dificulta a implementação de ações coletivas.

A ideia do free rider foi retomada e popularizada nos anos 1980 pelos economistas liberais para repudiar as ações do Estado Providência keunesiano. Eles usaram o problema do passageiro clandestino para explicar o fracasso da gestão do Estado na economia, uma vez que os governantes estão sempre distribuindo ganhos de produtividade para todos os agentes públicos, premiando assim os servidores parasitas. Para eles, ao persistir o modelo de distribuição universal dos ganhos, por longos períodos de tempo, o Estado vai se tornar improdutivo.

A Lógica da ação coletiva e o paradoxo de Olson 

Para construir sua análise, Olson classifica grupos e indivíduos da seguinte forma:

o  Os grupos ou coletivos são constituídos por um grande número de indivíduos;

o  Membros de um grupo, guiados pela racionalidade individual, tendem a buscar os benefícios da ação coletiva ao menor custo possível ou até mesmo evitando totalmente isso;

o  Qualquer ação coletiva realizada por um grupo envolve custos para seus membros (compromissos, riscos, perda de tempo, dinheiro investido, etc.), mas pode gerar benefícios coletivos (proteção social, aumentos salariais, etc).

Olson conclui que, quanto maior o número de membros de um grupo, maior a probabilidade de existência de free riders (caronas). Essa é a essência do famoso paradoxo de Olson.

A Teoria dos Jogos de Nash

Consideramos um exemplo baseado na Teoria dos Jogos de John Nash (Prêmio Nobel de Economia em 1994). Dois irmãos, A e B, trabalham juntos numa sala alugada num escritório de advocacia e pretendem comprar uma sala para instalar seu próprio escritório.  Se apenas um deles pagar, a SALA comprada será pequena. Se ninguém pagar, a SALA não será adquirida.

Ambos tomarão decisões considerando a ação do outro, de forma que sua ação que lhe traga maior utilidade:

o  Se A pagar, B não pagar (vai comprar a SALA pequena, a um custo menor). Resumindo: o melhor para cada um é deixar o outro pagar sozinho;

o  Com isso, A terá o mesmo raciocínio. Vai querer que B pague sozinho;

o  Assim, A e B chegarão à mesma conclusão: ambos têm interesse em não pagar;

o  Portanto, a SALA não será comprada, prejudicando a ambos.

Soluções para o paradoxo de Olson

Muitos economistas defendem a necessidade de implementar medidas restritivas ou coercitivas para viabilizar ações coletivas dentro das organizações. Essa abordagem, fundamentada na lógica do agente econômico racional, explica a aplicação de políticas intervencionistas, com visão keynesiana. Segundo Olson, a economia conta com grupos privilegiados, ou seja, grupos com um patrono que financia a ação coletiva. Nesse caso, o patrono geralmente é o Estado.

Reflexão final

O paradoxo de Olson representa um desafio significativo para a economia e a gestão de bens públicos. Você acredita que sua teoria reflete de forma precisa a realidade econômica atual?

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