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Maceió/Al, 13 de março de 2025

Colunistas

Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
10/03/2025 às 08:11

A Busca pelo Desenvolvimento Sustentável em Alagoas no século XXI

Transformar-se num estado moderno, aberto à industrialização com responsabilidade, buscando o desenvolvimento econômico utilizando todas suas potencialidades, mas tendo sempre como base o desenvolvimento humano, esse é o ponto em comum quando converso com colegas economistas sobre a construção de uma agenda de planejamento econômico para Alagoas.

O plano contemporâneo mais longínquo de que temos notícia foi desenhado nos idos dos anos 60, ainda no governo Muniz Falcão, quando foram criados instrumentos que até hoje servem de base para a estrutura de desenvolvimento de Alagoas. Vários economistas estiveram engajados na concepção desse novo modelo, dentre eles podemos destacar os professores Beroaldo de Maia Gomes, Evilásio Soriano, Vinícius Maia Nobre e José de Melo Gomes, entre outros, para não cometer injustiça. Foi a época do surgimento do Banco da Produção do Estado (Produban), da Companhia de Desenvolvimento de Alagoas (Codeal) da Companhia Energética (Ceal), da Companhia de Abastecimento de Água e Saneamento (Casal), da Ancar, que depois deu lugar à Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), da Empresa de Pesquisa e Extensão (Epeal) e da Companhia Telefônica (CTA), entre outras.

Apogeu: década de 1970

Não podemos deixar de destacar que o cenário estadual é um reflexo do que acontece nacionalmente. E com um cenário nacional favorável, o processo de desenvolvimento alagoano impulsionado nos anos 60 atinge seu apogeu na década de 70, dentro do quadro do chamado “milagre brasileiro”, quando surgiam o Pró-álcool, a Salgema (hoje Braskem). No final dessa década Alagoas ostentava uma melhoria considerável, oscilando entre o 2º e o 3º lugar nos indicadores econômicos do Nordeste. Éramos o terceiro Estado em arrecadação do Nordeste.

O modelo turístico, por exemplo, que colocou o estado em 2º lugar no ranking da região foi adotado pelo Rio Grande do Norte, e chegamos a ocupar também o 2º lugar em infraestrutura.

Tínhamos a melhor malha rodoviária, os maiores indicadores por quilômetro quadrado asfaltado e o maior número de conjuntos de obras residenciais executados no período. Alagoas apresentava um dos sistemas de eletrificações dos mais modernos do Nordeste, além de se ter um dos melhores sistemas de telefonia fixa.

Décadas perdidas: anos 1980/90

O que aconteceu? Entramos nos anos 80, a chamada década perdida para o Brasil, e que em Alagoas não foi diferente. As mudanças no cenário nacional mudaram o curso do modelo de desenvolvimento implantado em Alagoas. No ambiente interno, uma crise sem precedentes atinge o setor sucro-alcooleiro, com a perda de produtividade das unidades industriais da região Norte, então o principal esteio da economia estadual, obrigou a um processo de redefinição e relocalização das usinas de açúcar para a região sul do Estado. Pelo menos cinco fecharam na região norte do Estado.

Alagoas sofreu duplamente. No início dos anos 90, enquanto a maioria dos outros Estados busca sua recuperação e atração de investimentos por meio da guerra fiscal, Alagoas se revela impotente com a perda do controle das finanças que parou o Estado por quase duas décadas. A receita corrente líquida de Alagoas não conseguia pagar a sua folha de pagamento. O comprometimento da receita e o saturamento da capacidade de endividamento tirou o Alagoas da agenda nacional e internacional de desenvolvimento. Sem manutenção e sem capacidade de sobrevivência os principais ativos de políticas públicas construídos nos anos 60 começaram a deteriorar. O Produban foi liquidado a Ceal foi federalizada para pagar dívidas trabalhistas, a Emater foi desmontada. A Codeal e a Epeal foram fechadas.

O pólo cloroquímico que foi concebido como a redenção do Estado, foi relocado para Sergipe,  Bahia e até para o estado de São Paulo. Faltou incentivo fiscal para estabelecê-lo por aqui, enquanto outros Estados ofereciam muito mais que isso: terreno para implantação de empresas, capital de giro e outras vantagens.

Foram duas décadas de perdas, onde a situação de inadimplência empurrou Alagoas para o “cadastro dos Estados inadimplentes”, de onde não podia receber recursos externos.

A trajetória econômica de Alagoas nos anos 2000

Em janeiro de 1999, quando Ronaldo Lessa assumiu o Governo do Estado pela primeira vez, os dados encontrados explicavam o fato de o setor público estadual ter parado no tempo. Obras paralisadas, maior dívida pública proporcional entre as demais unidades da Federação, pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do País e piores taxas de mortalidade infantil, analfabetismo e exclusão social. Em razão da falência fiscal, o Estado tornou-se inadimplente e deixou de manter relações com outras esferas de poder, perdendo credibilidade junto ao Governo Federal.

É a partir desse cenário que passaremos discutir a trajetória da economia alagoana no século XXI. Pretendemos ainda destacar, nos artigos que virão na sequência, os principais desafios e perspectivas do nosso estado para se garantir um desenvolvimento sustentável. 

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