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Maceió/Al, 14 de maio de 2025

Colunistas

Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
12/05/2025 às 08:56

Dívida Pública e Crescimento Econômico no Brasil: Uma Análise Crítica

Uma temática que tem levantado discussões recorrentes no cenário brasileiro refere-se à relação entre a dívida pública e o crescimento econômico.

A dívida pública brasileira é um dos indicadores fundamentais para analisar a situação fiscal do país. Por se tratar de uma variável de estoque, ela representa tanto a trajetória fiscal, como também serve como parâmetro para projeções de crescimento econômico.

Essa discussão faz jus ao observar o crescimento da dívida no Brasil nos últimos anos. Ver tabela abaixo: 

Em 2020, no primeiro ano de pandemia da Covid, a dívida cresceu quase 17%. Passou de 74,4% do PIB, no ano de 2019 para 86,9% em 2020, representando uma alta de quase 17%. A expansão da dívida, de 2020, foi seguida por uma das maiores depressões econômicas, traduzida numa queda de -3,3% do PIB brasileiro. Nos dois últimos anos do governo Bolsonaro, foi implantado um programa de ajuste fiscal com viés liberal - privatizações e redução do tamanho do estado brasileiro -, reduzindo a participação da dívida pública no PIB. Assim, nos anos 2021 e 2022, o PIB aumentou 4,8% e 3,0%, respectivamente.

Todavia, em 2023, primeiro ano do governo Lula III, a dívida pública, que inclui dívida interna e externa, cresce e atinge 75,8% do PIB, iniciando uma trajetória de crescimento da dívida pública brasileira. Em dezembro de 2024, por exemplo, a dívida já estava na casa R$ 7,4 trilhões, aumentando para 78,4% do PIB. Vale destacar que a estimativa do Banco Central é que a dívida pública deve chegar a 79,8% do PIB, em 2025, “batendo na trave” de um nível crítico de endividamento. Apesar do aumento da dívida pública, o crescimento médio do PIB do governo Lula reagiu positivamente e deve atingir 3,0% a.a.

O que diz a teoria econômica?

A literatura econômica apresenta três abordagens distintas (neoclássica, keynesiana e a proposição da equivalência ricardiana) e conclusões diferentes para interpretar o efeito do “endividamento público” no “crescimento econômico”.

De acordo com a visão neoclássica, o aumento da dívida pública provoca um efeito negativo sobre o crescimento econômico. O endividamento excessivo conduz apenas a um aumento dos impostos futuros, o que poderia desestimular o investimento e o crescimento econômico. Ainda, as despesas do governo deveriam ser financiadas principalmente por meio de impostos, e não por empréstimos. Os neoclássicos entendem que a dívida pública transfere recursos do setor produtivo para o setor improdutivo, uma vez que os juros pagos sobre a dívida eram financiados por impostos.

Contrapondo, para os keynesianos, quando o governo aumenta seus gastos em tempos de crises econômicas, incorrendo no aumento da dívida pública, produzindo um clima de prosperidade no conjunto da economia na totalidade. A ideia central da teoria keynesiana é que o governo pode e deve intervir na economia, aumentando o endividamento público, visando estimular a demanda agregada e, assim, reduzir o desemprego e reativar o crescimento econômico. Ou seja, na visão keynesiana o aumento da dívida pública produz um efeito positivo sobre o crescimento econômico.

 Por fim, contrariando essas duas visões, a proposição da equivalência ricardiana demonstra que existe um efeito neutro ou irrelevante, de tal forma que o aumento da dívida pública não gera nenhum efeito sobre o crescimento econômico.

Reflexão

Na sua opinião, qual dessas três abordagens traduz o comportamento da dívida pública brasileira nos últimos dois governos? Neoclássica, keynesiana ou ricardiana?



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