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Maceió/Al, 19 de junho de 2025

Colunistas

Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
18/06/2025 às 09:45

O impacto social e econômico das apostas esportivas no Brasil

O Governo Federal elevou de 2,3% para 2,4% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025, mantendo aquecido para 2,6% a estimativa do PIB para o ano de 2026, impulsionado pelo consumo das famílias.

Apesar desse cenário de recuperação econômica, um novo assunto vem despertando a atenção dos economistas brasileiros: o crescimento das apostas esportivas. O aumento da popularidade das "bets" tem deslocado dinheiro da economia real, afetando o poder de compra das famílias. Cada vez mais se constata que pessoas estão comprometendo uma parte crescente de sua renda com apostas, afetando a economia produtiva.

As apostas online caíram no gosto dos brasileiros. Desde 2018, quando as apostas em eventos esportivos foram legalizadas por meio da Lei 13.756/2018, propagandas dos sites de apostas se tornaram frequentes na vida dos brasileiros. Os números são animadores: são bilhões que estão em jogo. Todavia, enquanto o mercado das bets cresce, o impacto desse boom na economia brasileira precisa ser mensurado. Nesse artigo traçaremos uma breve radiografia do comportamento desse setor.

Economia das bets

É impossível ignorar o impacto das bets na economia brasileira. E não estamos falando só de apostas. A indústria das apostas esportivos online envolve uma gama de setores como publicidade, financeiro, tecnologia, contabilidade, jurídico, entre outros. São cerca de 200 mil pessoas empregadas direta e indiretamente.

Projeta-se que próximo de 60% do total de apostas e jogos online da América Latina é realizado no Brasil. Na segunda posição, bem distante, vem a Colômbia, com participação perto de 10%.

Estudos vêm constatando a queda renda das famílias brasileiras destinadas para o consumo e para poupança. Por outro lado, os gastos das famílias em bets vêm aumentando acentuadamente.

Para se ter uma ideia, estimativas do mercado demonstram que as famílias brasileiras gastam uma média mensal de R$ 30 bilhões tentando acertar o placar das partidas de futebol – 80% das apostas são relacionadas à modalidade. A participação desse setor já é próxima de 1% do PIB.

A expectativa de contribuição tributária e social das bets para o ano de 2025 é que ultrapasse R$ 4 bilhões. A destinação se dará em áreas estratégicas como esporte, saúde, segurança pública, turismo, educação e seguridade social.

Vale destacar que a injeção de recursos anuais das bets nas atividades esportivas chegam próximos de R$ 2 bilhões, em 2025.

Impacto social

Cerca de 86% dos apostadores brasileiros que fazem apostas esportivas online estão endividados.

Vale destacar que aproximadamente 6 milhões de beneficiários do Bolsa Família, de um total aproximado de 20 milhões, realizam apostas eletrônicas via Pix. Com um gasto médio de R$ 100, são cerca de R$ 3 bilhões mensais destinados às apostas nas bets.

Prejuízo no consumo das famílias

Para a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as bets geram um prejuízo anual de R$ 120 bilhões aos estabelecimentos comerciais do país. Um estudo da CNC, realizado no período de junho de 2023 a junho de 2024, constatou que os apostadores brasileiros desembolsaram próximo de R$ 70 bilhões. Esse montante representa 0,95% do consumo total no período.

Evasão fiscal

Um estudo realizado pela LCA Consultores revela que entre 41% e 51% do mercado brasileiro de apostas permanece ilegal, causando uma perda fiscal estimada entre 1,8 bilhão de reais e 2,7 bilhões de reais em apenas três meses, podendo atingir até 10,8 bilhões de reais anuais.

Par sanar essa lacuna, o governo federal editou, em 11 de junho corrente, uma Medida Provisória elevando a tributação das empresas de apostas esportivas de 12% para 18%. Cinco dias depois, em 16 de junho essa Medida Provisória foi apreciada em caráter de urgência pela Câmara Federal, sendo derrubada.



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