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Maceió/Al, 05 de fevereiro de 2025

Colunistas

Jorge Luiz Bezerra Jorge Luiz Bezerra
É professor universitário, advogado, Mestre em Direito pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), delegado de Polícia Federal aposentado, especialista em Política Criminal, Segurança Pública e Privada, além de autor de diversos livros e artigos jurídicos.
27/01/2025 às 15:45

Como os EUA poderia combater Maduro na visão de War on Warriors de Hegseth?

Maduro e Hegseth Maduro e Hegseth

Quem é Hegseth?

Pete Hegseth, o novo Secretário de Defesa dos EUA na segunda gestão Trump é um veterano da Guarda Nacional dos Estados Unidos, tendo servido como oficial do Exército no Afeganistão, Iraque e na Baía de Guantánamo, em Cuba. Em 2012, ingressou na política e concorreu ao Senado pelo Estado de Minnesota, mas não foi eleito. A partir de 2014 até recentemente foi comentarista político e apresentador de programas na Fox News nos Estados Unidos, além disso é autor de livros nos quais defende os ideais do Conservadorismo norte-americano.

Hegseth, que tem 44 anos, também foi CEO de grupos de defesa de veteranos, como o Concerned Veterans for America e o *Vets for Freedom.

O início da gestão de Hegseth, que comandará também as Forças Armadas dos EUA, inclusive o Pentágono, não tem sido fácil, pois a Oposição tem procurado boicotar a aprovação dos candidatos de Trump no Senado. Para se ter uma ideia do acirramento, ele só foi confirmado para o cargo em 24/01/2025, depois que o vicepresidente JD Vance (que também é Presidente do Senado) desempatou a votação, que tinha ficado 50 a 50 após três republicanos se juntarem aos democratas e independentes.

Indubitavelmente, o novel Secretário de Defesa, se deparará com grandes desafios, mais um particularmente nos chama atenção por ser um problema que preocupa a quase toda América Latina. Reporto-me a situação caótica da Venezuela e seu títere de plantão, Nicolas Maduro que está não apenas destruindo a economia do país, mas o seu próprio povo. Além disso o caudilho venezuelano tem estreita parceria com Cuba, Irã, Nicaragua, Rússia, Coreia do Norte e China, ou seja, com o chamado Eixo do Mal que é hostil aos EUA.

Em 26 de março de 2020, o Departamento de Justiça (DOJ) dos EUA apresentou acusações criminais contra Maduro por narcoterrorismo e tráfico internacional de drogas. Nessa ocasião, o governo americano ofereceu uma recompensa de US$ 15 milhões por informações que levassem à sua captura. (El País Brasil)

Em janeiro de 2025, os Estados Unidos aumentaram essa recompensa para US$ 25 milhões, reforçando seu compromisso em responsabilizar Maduro por suas supostas atividades criminosas. (CNN Brasil)

Antecedentes:

Os processos criminais contra Nicolás Maduro que tramitam no Tribunal Penal Internacional de Haia e nas Cortes de justiça nos Estados Unidos baseiam-se em acusações relacionadas ao narcotráfico internacional, mais especificamente sua  liderança e participação no chamado Cartel de Los Soles (Cartel dos Sóis). Este cartel é uma organização criminosa que, segundo as autoridades norteamericanas, opera dentro do governo venezuelano e é responsável pelo tráfico de toneladas de cocaína para os Estados Unidos.

O ex-chefe de inteligência militar venezuelana (Dirección de Inteligencia Militar - DIM), HUGO ARMANDO CARVAJAL BARRIOS, também conhecido como “El Pollo”, foi extraditado em 19/07/2023 da Espanha para os Estados Unidos com base numa acusação registrada na Corte de Justiça do Distrito Sul de Nova York acusando CARVAJAL de narcoterrorismo, tráfico, conspiração para importar cocaína para os Estados Unidos e crimes relacionados a armas de fogo. Ele tornou-se o delator que apontou todos os membros do Cartel venezuelano, inclusive Maduro, seu staff, comandantes das FARC e outras lideranças estrangeiras de nações latinas que tiveram suas campanhas eleitorais financiadas pelo narcotráfico via Venezuela.

Sob o prisma de War on Warriors

Sob a perspectiva de War on Warriors – Behind the Betrayal of the men who keep us free (A Guerra contra os Guerreiros: Por Trás da Traição dos Homens que Nos Mantêm Livres) Pete Hegseth que teria se alistado no Exército para lutar contra extremistas. Mas, esse mesmo Exército o chamou de um, conforme ele mesmo comenta no livro citado. O exército ao qual Pete se juntou há vinte anos era intensamente focado em letalidade e competência. Hoje, segundo ele, os altos escalões do US Army estão seguindo o resto do país para o precipício do caos cultural e da fraqueza.

“Americanos com bom senso estão lutando contra isso em muitas frentes, mas se não conseguirmos salvar a meritocracia de nossas forças armadas, definitivamente perderemos em todos os outros lugares.” (Hegseth).

Ainda segundo Hegseth, The War on Warriors revela: as raízes profundas da nossa disfunção — uma sociedade que se esqueceu dos homens que assumem riscos, cortam a burocracia e sujam as mãos. O único tipo de homem preparado para enfrentar os perigos que a esquerda finge que não existem. Ao contrário de questões de educação, impostos ou crime, esse problema não tem uma solução de código postal. Não podemos nos afastar dele. Não podemos evitá-lo. Temos apenas um Pentágono. Ou o pegamos de volta ou o entregamos completamente.

Pete Hegseth, também critica a forma como a sociedade, as lideranças políticas e as instituições minam a autoridade e a eficácia das forças armadas e da segurança nacional, dentro dessas perspectivas, em havendo um efetivo combate à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela e suas conexões com o narcotráfico e o terrorismo seria tratado como uma batalha entre os valores fundamentais da liberdade e democracia contra forças tirânicas e ilegais.

Com arrimo, no pensamento de Hegseth in The War on Warriors, ressaltando que embora Trump tenha anunciado que irá combater diuturnamente o narcotráfico – principalmente o fentanil, Made in China e a cocaína que vem da America do Sul, ambas drogas que de forma majoritária entram pelo México - que alimentam as ruas dos EUA, não há notícias de quaisquer medidas impactantes e objetivas quanto a prisão de Maduro. A priori, vale destacar que estamos raciocinando em cima do pensamento do novo Secretário de Defesa contido no seu best seller (The War in Warriors), e partir disso, podemos inferir que conforme as convicções da citada autoridade, deverá ser incentivado o papel central de militares fortes, a coragem moral e a defesa de princípios ocidentais como pilares de um esforço estratégico contra regimes autoritários. Aplicando essa visão ao caso venezuelano, a estratégia poderia incluir os seguintes elementos:

1.  Restaurar a Confiança e Fortalecer as Forças Armadas dos EUA

Hegseth acredita que forças armadas coesas, respeitadas e bem equipadas são essenciais para proteger os interesses nacionais e combater ameaças globais.

Nesse sentido:

Aumentar a prontidão militar: Reforçar a preparação militar dos EUA para intervenções estratégicas, demonstrando capacidade de projetar poder contra regimes que ameacem a segurança regional.

Reforçar alianças regionais: Trabalhar com forças armadas de países aliados na América Latina (Colômbia, Brasil, Peru, Argentina, Paraguai, Uruguai) para estabelecer coalizões militares capazes de conter o regime de Maduro.

Deterrência ativa: Demonstrar força por meio de exercícios militares nas proximidades da Venezuela, enviando uma mensagem clara ao regime e seus aliados que os EUA estão de olho na administração criminosa de Maduro.

2. Política de Pressão Máxima

Inspirado pela ênfase de Hegseth em ações diretas e assertivas, o Department of Defense-DOD) poderia optar por: Imposição de sanções econômicas agressivas: Expandir sanções a empresas, bancos e governos que financiam ou negociam com Maduro, mirando especificamente sua capacidade de sustentar o narcotráfico e os grupos armados.

Cortes no apoio logístico e energético: Restringir a exportação de recursos estratégicos, como petróleo e combustíveis, usados pelo regime como arma política.

Bloqueio naval e aéreo: Considerar ações para impedir o contrabando de armas, drogas e o fluxo clandestino de dinheiro entre a Venezuela e seus aliados.

3. Enfrentar o Narcotráfico com Força Militar

Hegseth argumenta que os EUA devem usar sua força militar para proteger seus interesses globais. Sob essa lógica podem ser encetadas:

Operações militares contra o Cartel dos Sóis: Lançar ofensivas direcionadas às bases de operação do narcotráfico venezuelano, interrompendo suas redes de produção e distribuição.

Apoio às forças militares colombianas: Trabalhar com a Colômbia para impedir que as rotas de drogas e grupos armados, como as FARC, se fortaleçam na fronteira com a Venezuela.

Ataques seletivos: Considerar operações de forças especiais contra líderes do narcotráfico vinculados diretamente ao regime de Maduro.

4. Desmantelar as Conexões Terroristas

A visão de Hegseth coloca a segurança nacional como prioridade. Assim:

Rastrear financiamento terrorista: Identificar e cortar o fluxo de dinheiro entre o regime de Maduro e organizações terroristas como Hezbollah e grupos iranianos. É a velha e sempre bem sucedida tática do Follow the money.

Operações de contraterrorismo: Mobilizar forças especiais ou drones para neutralizar células terroristas que operam na Venezuela e em regiões adjacentes.

Parcerias internacionais: Trabalhar com Israel, Argentina, Colômbia e outras nações comprometidas em combater o terrorismo para isolar o regime de Maduro.

5. Reforço Moral e Propaganda Estratégica

Hegseth valoriza princípios éticos e morais como ferramentas poderosas contra regimes autoritários. Nesse contexto:

Campanhas de informação: Lançar uma ofensiva global de propaganda para expor as violações de direitos humanos, a corrupção e os vínculos do regime venezuelano com crimes transnacionais.

Empoderar o povo venezuelano: Financiar meios de comunicação e plataformas locais de oposição para espalhar mensagens de resistência e esperança.

Divisão interna no regime: Estimular deserções militares e a fragmentação das forças armadas venezuelanas por meio de incentivos e campanhas psicológicas.

6. Cooperação com Governos Locais

Hegseth critica a falta de ação decisiva em situações de ameaça internacional.

Assim, seria vital:

Alianças estratégicas com governos latino-americanos: Trabalhar com democracias regionais para formar uma coalizão que contenha o avanço do regime de Maduro.

Pressão sobre Cuba, Irã, China e Rússia: Desencorajar os principais apoiadores do regime venezuelano a continuar fornecendo suporte financeiro, técnico, militar e logístico.

7. Operações Militares Limitadas

Em que pese, Hegseth enfatizar a força militar, ele também reconhece a importância de evitar longas guerras. Nesse caso:

Intervenção cirúrgica: Executar operações militares específicas para enfraquecer a capacidade de Maduro de governar, como neutralizar centros de comando militar e bases estratégicas.

Proteção humanitária: Garantir que qualquer ação militar inclua medidas para proteger civis e fornecer ajuda humanitária.

8. Incentivar a Substituição do Regime

Hegseth provavelmente apoiaria esforços para promover uma transição de poder:

Apoio à oposição legítima: Financiar, treinar e proteger líderes da oposição que possam oferecer uma alternativa democrática ao regime, especialmente ao Presidente Edmundo González eleito em 28/07/2024, pelo povo no último certame eleitoral, que para não ser preso, teve que fugir da Venezuela.

Estímulo a mudanças internas: Fornecer garantias a líderes chavistas de baixo escalão para que abandonem Maduro e apoiem uma transição pacífica.

Para quem tiver dúvidas sobre a linha dura de Hegseth

“É uma honra anunciar que nomeei Pete Hegseth para servir em meu Gabinete como secretário de Defesa. Pete dedicou toda a sua vida como um guerreiro pelas tropas e pelo país. Ele é determinado, inteligente e um verdadeiro defensor do 'América em Primeiro Lugar (America First)'. Com Pete no comando, os inimigos dos Estados Unidos estão avisados: nosso Exército será grandioso novamente, e a América nunca recuará”, cita um comunicado publicado por Trump nas redes sociais. (https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/trump-anuncia-apresentadorda-fox-news-como-novo-secretario-de-defesa-dos-eua/ 12.11.2024). (o destaque é nosso)

Segundo o Portal G1, o líder da maioria no Senado, John Thune, disse que Hegseth, como veterano da Guarda Nacional do Exército que serviu em missões no Iraque e no Afeganistão, "trará a perspectiva de um guerreiro" para o cargo militar mais alto. (https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/01/25/senado-aprova-escolhido-portrump ao-pentagono-em-voto-de-desempate-do-vice-presidente.ghtml)

"Serão eliminados os dias de distrações Woke", disse Thune, referindo-se às iniciativas de diversidade, equidade e inclusão que estão sendo reduzidas no governo federal. "O foco do Pentágono será na luta militar." (Idem).

Não custa lembrar que o Secretário de Defesa dos Estados Unidos é o chefe do Departamento de Defesa (DoD) e exerce autoridade, direção e controle sobre várias entidades e órgãos subordinados. Entre elas as forças armadas, a Força Espacial dos EUA, os 11 (onze) Comandos Combatentes Unificados, com responsabilidades geográficas ou funcionais que conduzem operações militares e integram capacidades de diferentes serviços para alcançar objetivos estratégicos.

Afinal, a derrubada de Maduro pelos EUA é uma questão de tempo?

A intervenção militar ou direta dos Estados Unidos na Venezuela para prender Nicolás Maduro, apesar das acusações graves contra ele, é uma questão complexa que envolve considerações legais e geopolíticas.

Aqui estão os principais fatores que podem explicar por que os EUA não optariam por uma intervenção militar: considerando o respeito a soberania nacional, uma intervenção militar violaria a Carta da ONU; o Conselho de Segurança da ONU, do qual faz parte China e Rússia, aliados de 1ª ordem da Venezuela, certamente vetaria; Isolamento diplomático dos EUA, uma intervenção poderia isolar os EUA na região e fortalecer narrativas antiamericanas, entregando a região a China e a Rússia; agravaria a crise humanitária na Venezuela, desencadeando uma onda massiva de refugiados para países vizinhos, inclusive os EUA; Controle de recursos naturais: A Venezuela possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Qualquer intervenção poderia ser interpretada como uma tentativa de controlar esses recursos, gerando críticas internacionais; Custo humano e financeiro: uma intervenção militar seria extremamente cara e arriscaria a vida de soldados norte-americanos, além de causar mortes de civis, o que poderia gerar críticas domésticas e internacionais.

Conclusão

As mencionadas alegações do ex-general Carvajal, que era o homem forte da Inteligência venezuelana são parte das investigações em curso sobre a corrupção e o envolvimento do governo venezuelano em atividades criminosas, e são um reflexo das tensões políticas, econômicas e sociais na Ditadura Maduro na Venezuela. As autoridades norte-americanas utilizaram essas informações como parte dos processos legais contra diversos membros do governo venezuelano.

Como livre pensar é só pensar, podemos concluir que sob a ótica de War on Warriors, a luta contra o regime de Nicolas Maduro envolveria uma abordagem combativa, onde a força militar e a moral seriam combinadas para derrotar a corrupção, o narcotráfico e as conexões terroristas. A ênfase de Hegseth na força moral e na ação decisiva sugere que uma tática contra Maduro exigiria não apenas sanções econômicas, mas também demonstrações tangíveis de poder militar e apoio estratégico à oposição. No entanto, qualquer ação, certamente, equilibraria força com prudência, evitando uma escalada regional ou o sofrimento adicional do povo venezuelano. Tudo isso sem olvidar o rol de freios e contrapesos já listados.

Na sexta-feira, 10/01/2025, o governo dos Estados Unidos aumentou a recompensa por informações que levem à condenação e captura de Nicolás Maduro de US$ 15 milhões para US$ 25 milhões. O anúncio foi feito no mesmo dia em que o presidente chavista assumiu o poder pelos próximos seis anos na Venezuela, no que Washington descreveu como uma "posse presidencial fraudulenta".

Conquanto as acusações contra Maduro sejam graves, para muitos, uma intervenção militar seria uma medida extrema com implicações imprevisíveis e  potencialmente desastrosas. Em vez disso, os EUA deverão continuar utilizando sanções econômicas, diplomacia e apoio à oposição venezuelana para tentar isolar o regime e enfraquecer o poder do caudilho.

Até 27 de janeiro/2025, Maduro e seus comparsas do governo e líderes das FARC seguem sendo processados por três (3) cortes norte-americanas por traficar toneladas de cocaína para os EUA, todavia, os marines continuam sem ordens para invadir a Venezuela para prender o ditador. Se isso acontecerá não é possível prever por todas as razões geopolíticas aqui informadas, mas cresce a pressão de vários países democráticos, inclusive europeus, para que seja derrubada a tirania de Maduro. Resta saber se Hegseth tenciona prender Maduro e seus asseclas, e daí se convencerá Trump e o Congresso quanto a necessidade de colocar Maduro atrás das grades e assim colocar um ponto final a anos de corrupção, tráfico internacional, violência e exploração do povo venezuelano.

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