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Maceió/Al, 02 de maio de 2025

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Jorge Luiz Bezerra Jorge Luiz Bezerra
É professor universitário, advogado, Mestre em Direito pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), delegado de Polícia Federal aposentado, especialista em Política Criminal, Segurança Pública e Privada, além de autor de diversos livros e artigos jurídicos.
13/04/2025 às 17:23

“O ser humano não é anjo nem besta, e quem tenta ser anjo acaba se tornando besta” (Pascal)

Pascal e a Sociologia Criminal: a virtude no equilíbrio humano

A célebre frase “O ser humano não é anjo nem besta, e quem tenta ser anjo acaba se tornando besta” sintetiza essa visão. Para Pascal, tentar negar a natureza humana ou sobrepor-se a ela com moralismos excessivos leva a distorções perigosas. Essa reflexão se encaixa de maneira surpreendentemente atual na sociologia criminal, especialmente nas estratégias voltadas para a prevenção e reintegração de jovens em situação de risco. 

Blaise Pascal (1623–1662) foi um gênio polímata cuja obra transita entre a matemática, a física, a filosofia e a teologia. Ainda jovem, destacou-se com invenções e teorias que moldaram o pensamento científico, como o Teorema de Pascal e os estudos sobre pressão e hidráulica. Mas é em sua obra Pensées que Pascal revela sua face mais filosófica e espiritual, refletindo sobre a complexa natureza humana — marcada pela tensão entre grandeza e miséria.

Pascal e a Criminologia: um diálogo possível 

Pascal propõe que o ser humano é um misto de razão e instinto — uma dualidade que pode ser compreendida por várias teorias da criminologia. Desde a Anomia de Durkheim até a Teoria do Apego de Bowlby, passando por Hirschi, Cohen & Felson e Sutherland, há consenso de que fatores sociais, afetivos e estruturais moldam comportamentos desviantes.

Ao aplicar o pensamento pascaliano, surgem dois caminhos complementares: 

1. Reconhecer a complexidade humana 

O crime não é apenas fruto de más decisões individuais, mas de contextos adversos. Assim, é fundamental agir com compaixão, oferecendo alternativas reais aos jovens marginalizados. 

2. Fomentar a virtude e o sentido de pertencimento Em vez de impor um puritanismo inalcançável ou tolerar o abandono, Pascal ensina que o caminho está na educação ética, no diálogo com as autoridades legítimas e na criação de espaços em que os jovens possam exercer suas virtudes em prol da comunidade.

Estratégias que poderiam ser inspiradas em Pascal 

Projeto: Jovens pela Justiça 

Objetivo: Engajar jovens em atividades de impacto social que previnam comportamentos criminosos e os inspirem a contribuir para comunidades pacíficas.

Atividades: 

Oficinas filosóficas sobre o pensamento de Pascal, adaptadas para explicar a dualidade humana e os valores morais. Dias de ação comunitária, como reformas de espaços públicos ou campanhas de conscientização. 

Desenvolvimento de eventos esportivos, competições artísticas e projetos de empreendedorismo. 

Resultados esperados: 

Redução dos índices de vandalismo e furtos locais. 

Jovens mais conscientes sobre responsabilidade social e autoestima elevada por suas contribuições.

Síntese 

Projetos como Jovens pela Justiça colocam esses princípios em prática. Oficinas de ética, ações comunitárias e programas de mentoria oferecem não só ocupação, mas um novo sentido de identidade e contribuição. O reconhecimento da autoridade, o combate ao isolamento e a valorização de talentos tornam-se pilares para a construção de comunidades mais justas e ordeiras.

Outros pensadores em diálogo 

Pascal não está só. Durkheim reforça a importância da solidariedade social. Foucault alerta sobre os perigos de sistemas opressivos sem liberdade. Rousseau defende a educação moral como base da cidadania. Todos convergem em um ponto: é preciso formar o ser humano integral, consciente de suas fraquezas, mas capaz de superá-las.

Conclusão 

A sabedoria de Pascal, longe de ser um pensamento do passado, mostra-se um guia para tempos de crise moral e social. Reconhecer que o ser humano não é nem anjo nem besta, mas alguém em busca de equilíbrio, nos obriga a reformular políticas públicas e estratégias de prevenção ao crime com mais humanidade, mais filosofia — e, por que não, mais fé. E como diria o próprio Pascal, com certa ironia tão própria aos sábios:

É preciso saber rir da própria pretensão de pureza, antes que a vida o faça em voz mais alta”.

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