Pascal e a Sociologia Criminal: a virtude no equilíbrio humano
A célebre frase “O ser humano não é anjo nem besta, e quem tenta ser anjo acaba se tornando besta” sintetiza essa visão. Para Pascal, tentar negar a natureza humana ou sobrepor-se a ela com moralismos excessivos leva a distorções perigosas. Essa reflexão se encaixa de maneira surpreendentemente atual na sociologia criminal, especialmente nas estratégias voltadas para a prevenção e reintegração de jovens em situação de risco.
Blaise Pascal (1623–1662) foi um gênio polímata cuja obra transita entre a matemática, a física, a filosofia e a teologia. Ainda jovem, destacou-se com invenções e teorias que moldaram o pensamento científico, como o Teorema de Pascal e os estudos sobre pressão e hidráulica. Mas é em sua obra Pensées que Pascal revela sua face mais filosófica e espiritual, refletindo sobre a complexa natureza humana — marcada pela tensão entre grandeza e miséria.
Pascal e a Criminologia: um diálogo possível
Pascal propõe que o ser humano é um misto de razão e instinto — uma dualidade que pode ser compreendida por várias teorias da criminologia. Desde a Anomia de Durkheim até a Teoria do Apego de Bowlby, passando por Hirschi, Cohen & Felson e Sutherland, há consenso de que fatores sociais, afetivos e estruturais moldam comportamentos desviantes.
Ao aplicar o pensamento pascaliano, surgem dois caminhos complementares:
1. Reconhecer a complexidade humana
O crime não é apenas fruto de más decisões individuais, mas de contextos adversos. Assim, é fundamental agir com compaixão, oferecendo alternativas reais aos jovens marginalizados.
2. Fomentar a virtude e o sentido de pertencimento Em vez de impor um puritanismo inalcançável ou tolerar o abandono, Pascal ensina que o caminho está na educação ética, no diálogo com as autoridades legítimas e na criação de espaços em que os jovens possam exercer suas virtudes em prol da comunidade.
Estratégias que poderiam ser inspiradas em Pascal
Projeto: Jovens pela Justiça
Objetivo: Engajar jovens em atividades de impacto social que previnam comportamentos criminosos e os inspirem a contribuir para comunidades pacíficas.
Atividades:
Oficinas filosóficas sobre o pensamento de Pascal, adaptadas para explicar a dualidade humana e os valores morais. Dias de ação comunitária, como reformas de espaços públicos ou campanhas de conscientização.
Desenvolvimento de eventos esportivos, competições artísticas e projetos de empreendedorismo.
Resultados esperados:
Redução dos índices de vandalismo e furtos locais.
Jovens mais conscientes sobre responsabilidade social e autoestima elevada por suas contribuições.
Síntese
Projetos como Jovens pela Justiça colocam esses princípios em prática. Oficinas de ética, ações comunitárias e programas de mentoria oferecem não só ocupação, mas um novo sentido de identidade e contribuição. O reconhecimento da autoridade, o combate ao isolamento e a valorização de talentos tornam-se pilares para a construção de comunidades mais justas e ordeiras.
Outros pensadores em diálogo
Pascal não está só. Durkheim reforça a importância da solidariedade social. Foucault alerta sobre os perigos de sistemas opressivos sem liberdade. Rousseau defende a educação moral como base da cidadania. Todos convergem em um ponto: é preciso formar o ser humano integral, consciente de suas fraquezas, mas capaz de superá-las.
Conclusão
A sabedoria de Pascal, longe de ser um pensamento do passado, mostra-se um guia para tempos de crise moral e social. Reconhecer que o ser humano não é nem anjo nem besta, mas alguém em busca de equilíbrio, nos obriga a reformular políticas públicas e estratégias de prevenção ao crime com mais humanidade, mais filosofia — e, por que não, mais fé. E como diria o próprio Pascal, com certa ironia tão própria aos sábios:
“É preciso saber rir da própria pretensão de pureza, antes que a vida o faça em voz mais alta”.
(82) 996302401 (Redação) - Comercial: comercial@al1.com.br
© 2025 Portal AL1 - Todos os direitos reservados.