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Maceió/Al, 12 de março de 2025

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Jorge Luiz Bezerra Jorge Luiz Bezerra
É professor universitário, advogado, Mestre em Direito pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), delegado de Polícia Federal aposentado, especialista em Política Criminal, Segurança Pública e Privada, além de autor de diversos livros e artigos jurídicos.
03/03/2025 às 18:01

Ataques de drones no Rio por facções teriam digitais estrangeiras?

À primeira vista alguém pode pensar, o título deste artigo deve ser mero exercício de uma fértil imaginação, só que não. Posto que é totalmente factível pensar que facções criminosas brasileiras possam estar utilizando drones, no mínimo, inspirados nos modelos empregados por forças russas e iranianas em conflitos. Há vários indícios que sustentam essa hipótese: 

1️. Adoção de táticas assimétricas por facções 

Facções como o PCC e o Comando Vermelho têm se sofisticado em seu modus operandi, adotando estratégias inspiradas em grupos paramilitares e insurgentes internacionais. 

O uso de drones carregados com explosivos é um recurso comum em grupos terroristas e milícias apoiadas pelo Irã e Rússia, como o Hezbollah, os Houthis e até forças Wagner.

2️. Modelos usados na Guerra e possível transferência tecnológica 

A Rússia e o Irã vêm empregando drones kamikaze e drones de reconhecimento modificados para ataques, o que pode ter sido ensinado por mercenários russos, cubanos ou do Oriente Médio que poderiam ter vindo ao Rio de Janeiro ou mesmo inspirado facções brasileiras através de pesquisas na Deep Web, onde se ensina de tudo, inclusive com fazer bombas e drones armados ou explosivos: 

Irã: drones Shahed-1️36 (são usados contra a Ucrânia) 

Rússia: drones Lancet e drones comerciais modificados com granadas 

Hezbollah e Houthis: usam drones Qasef-2️K e Samad-3 

É notório que o Irã, por exemplo, forneceu tecnologia de drones para grupos criminosos e milícias em diferentes partes do mundo, incluindo Venezuela e Nicarágua, ambos próximos ao Brasil. A seguir, algumas notícias sobre este fato e as fontes: 

"POR Michael Lipin/Voz de América - abril 25, 2022 A afirmação de Israel de que seu inimigo regional, o Irã, está ajudando a Venezuela a construir drones de combate está levantando preocupações de que os dois aliados contra os Estados Unidos possam permitir que tais drones sejam usados para o terrorismo.

O ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, disse, em 22 de fevereiro, que seu governo determinou que “mísseis iranianos guiados com precisão estão sendo entregues” à Venezuela para serem instalados em “drones avançados iranianos Mohajer” e modelos similares. Enquanto Gantz falava, uma tela mostrava uma imagem do venezuelano Nicolás Maduro apresentando um modelo de um drone na televisão estatal. (...) (https://dialogoamericas.com/pt-br/articles/aparente-fornecimento-de-drones-decombate-do-ira-para-venezuela-destaca-riscos-do-terrorismo/). 

E tem mais: “(...) Esses dispositivos não tripulados foram os primeiros comprados pela Venezuela do Irã durante o governo de Hugo Chávez.

 De acordo com as informações disponíveis no banco de dados de equipamentos militares ODIN, pertencente ao Exército dos Estados Unidos, a Venezuela assinou um acordo com o Irã em 2007 para montar 12 unidades do Mohajer 2, a partir de partes e peças fornecidas pela Força Quds da Guarda Revolucionária do Irã. Começaram a ser montados pela Cavim, a estatal venezuelana responsável pela produção de armas e munições. (...)” (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63816546) 

3. Acesso de facções a mercados paralelos de armamento 

O Brasil tem portos e fronteiras vulneráveis, facilitando a chegada de tecnologia militar estrangeira. 

Desde a implantação da ditadura bolivariana, iniciada por Chavez, milhares de venezuelanos entraram no Brasil, por uma fronteira praticamente desguarnecida. Assim, quem sabe quantos criminosos, terroristas, especialistas em explosivos e armas entram em nosso país? E quantos foram para os morros cariocas? 

Ademais, desde o início dos anos 2000, a nossa inteligência sabe da presença de guerrilheiros de Angola e Moçambique nas favelas do Rio de Janeiro.(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0902200025.htm?utm_sour ce=chatgpt.com). Com efeito, o entrosamento de guerrilheiros com as nossas facções criminosas é uma realidade comprovada, por exemplo, quando em dezembro de 2006: (...) autoridades policiais anunciaram oficialmente a existência na região metropolitana do Rio de ex-guerrilheiros angolanos contratados por facções do crime organizado para combater grupos inimigos. (...). (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1612200602.htm?utm_source=chatgpt.com). 

O Paraguai e a Tríplice Fronteira são conhecidos pontos de comércio ilegal de armas e tecnologia de guerra, onde ocorreriam facilmente a aquisição de peças para drones.

Relatórios já apontaram ligação entre facções e grupos ligados ao Hezbollah, que pode fornecer expertise na montagem e modificação de drones para ataques. 

4️. Adaptação de tecnologias comerciais 

Facções podem estar comprando drones comerciais (DJI, Autel) e os modificando com explosivos, como fazem os russos na Ucrânia. 

Softwares de navegação por GPS off-line e bloqueio de interferência podem ser obtidos em mercados negros de tecnologia. 

5️. Exemplo de uso recente em país vizinho 

Em que pese, não existirem registros de ataques com drones explosivos em presídios brasileiros, incidentes semelhantes ocorreram em outros países. Em setembro de 2023, a polícia do Equador detonou de forma controlada um drone carregado com explosivos que havia pousado no telhado de um complexo penitenciário em Guayaquil. (03/09/13/policia-do-equador-detona-droneexplosivo-em-prisao-de-seguranca- maxima. ghtml?utm_source)

6. A visita dos navios iranianos ao Brasil 

A despeito do embargo norte-americano, ocorreu a visita dos navios de guerra iranianos Iris Makran e Iris Dena ao Porto do Rio de Janeiro, entre 2️6 de fevereiro e 4️ de março de 2️02️3, evento que levantou suspeitas e preocupações geopolíticas. Em que pese, oficialmente tratada como uma visita diplomática e de projeção de poder naval pelo Irã, não como negar que essa presença poderia alimentar teorias conspiratórias de que isso pode ter facilitado algum tipo de intercâmbio de informações, equipamentos ou treinamento para facções criminosas no Brasil. 

Fatores que alimentam a imaginação de uma possível Conexão Irã-CV e PCC: 

1️. Histórico de cooperação entre facções criminosas e grupos do Oriente Médio 

• Relatórios da inteligência brasileira e internacional indicam que organizações criminosas brasileiras, como o PCC e o Comando Vermelho, possuem conexões indiretas com grupos ligados ao Hezbollah, financiados pelo Irã

• O Hezbollah tem presença consolidada na Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina) e está envolvido em atividades como tráfico de armas, lavagem de dinheiro e contrabando. 

2️. Possível transferência de tecnologia e treinamento

O Irã é um dos principais desenvolvedores de drones kamikaze, amplamente usados pelos Houthis no Iêmen, pelo Hezbollah e até pela Rússia na guerra contra a Ucrânia. 

• O Iris Makran é um navio de apoio logístico, com capacidade para transportar equipamentos militares e possivelmente drones. 

• O Iris Dena é uma fragata armada, e será que sua presença poderia ter servido para disfarçar eventuais contatos com elementos do Crime Organizado no Brasil? 

Em 2024, a Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga a informação de que drones estariam sendo usados para monitorar e lançar granadas em comunidades do Rio. Moradores dizem que traficantes do Complexo de Israel e do Quitungo, que ficam na Zona Norte e são rivais, têm usado os equipamentos para lançar explosivos. (https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/07/08/video-bandidos-usamdrones-contra-rivais-no-rio.ghtml?utm_source).

É bem possível que facções tenham se inspirado ou até recebido influência indireta da contrainteligência russa e iraniana, inclusive, através de militares venezuelanos que emigraram para o Rio de Janeiro, adquirindo conhecimento técnico e estratégias operacionais para adaptar drones comerciais para ataques. Bem como, não seria de todo impossível, imaginar uma interação com membros da contrainteligência iraniana que vieram ao Rio nos citados navios de guerra em 2023. Isso representa um novo desafio para a segurança pública, exigindo contramedidas tecnológicas e táticas para combater essa ameaça, mormente agora, que sabemos que o CV e o PCC fizeram há mais de um ano, uma nova aliança ( G1, BandNews FM, 26.02.2024) operacional e/ou logística para o crime. 

No grande teatro da segurança pública, onde drones zumbem como moscas cibernéticas e alianças criminosas se reconfiguram ao sabor dos ventos geopolíticos ou melhor “geocriminosos”, somos todos atores em uma peça de contrainteligência global. As fronteiras entre o Estado e o submundo, outrora linhas tênues, agora se dissolvem em um mosaico de interesses obscuros. E enquanto nos debatemos com a complexidade desse novo mundo, talvez devêssemos nos perguntar: quem realmente está escrevendo o roteiro?"

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