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Maceió/Al, 29 de março de 2024

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Roberto Boroni Roberto Boroni
Jornalista de formação e que tem a crônica esportiva no coração. Ex-assessor de comunicação do CRB, Vivi de perto a Série B para saber que ela pode ser tudo, menos fácil!
01/08/2021 às 08:47

Seleção Feminina: nada de terra arrasada, muito pelo contrário!

Foto: A2M/CBF Foto: A2M/CBF

Não tem como não lamentar mais uma eliminação, nos detalhes, da Seleção Feminina de Futebol nas Olímpiadas. Passadas algumas horas, vendo o que o futuro pode prometer, vejo que é hora de exaltar o que ficou de bom e o olhar para o copo meio cheio, sobretudo porque para mim é nítido o avanço tático e até, mesmo ainda não sendo o ideal, estrutural do futebol feminino no Brasil.

A derrota nos pênaltis para o Canadá dói, porque ficou claro que o time tem um potencial bem maior do que o do futebol apresentado. A técnica Pia Sundhagen deu um padrão tático a equipe e começou a implementar uma nova mentalidade, mesmo tendo seu trabalho muito prejudicado pela pandemia, o Brasil fez pouquíssimos jogos nos últimos dois anos e isso teve um peso forte no resultado final. Pia cometeu erros, o que vou pontuar um pouco para mais para frente, mas é uma vencedora e vai ter agora, esperamos todos nós, um ciclo mais completo para a Copa do Mundo em 2023 e os Jogos de Paris em 2024.

Pia chegou na Seleção em agosto de 2019, pegou uma equipe que não possuía um calendário de jogos programados e com o futebol de base sem nenhum comando, sem treinadores nas equipes Sub-20 e Sub-17. Ou seja, ela não herdou trabalho algum, teve que começar praticamente do zero.

A falta de jogos, em virtude da Pandemia, tirou da Pia quem sabe o poder de ampliar o seu leque de horizontes e opções na formatação do time. Foram apenas três jogos em 2020, o que é praticamente nada. Em 2021 foram, se eu não tiver enganado, cinco jogos e aí chegamos nas Olímpiadas.

Vendo o quanto não jogamos bem contra o Canadá, fiquei com a nítida impressão que o Brasil se preparou para um outro caminho nas olímpiadas. Que seriam sair em primeiro no nosso grupo e pegar os Estados Unidos ou Suécia nas quartas. Duas equipes bem mais fortes que o Canadá e que proporiam um outro jogo para nossa Seleção, nos atacariam e teriam a bola. O Canadá fez o contrário, nos deu a bola e ficamos sem ideias para o que fazer com ela. E esse não foi o único erro da comissão técnica, pois não levar a atacante Cristiane, tirou do Brasil talento e qualidade técnica no ataque, o que claramente nos faltou, ao optar por atacantes de força e velocidade.

E sem contar, que não conseguimos gerar nenhum espaço para Marta brilhar. Não tínhamos um jogo de aproximação, Marta pegava a bola e na frente dela quase ninguém para municiar ou abrir espaços. É como você ter um Ás no jogo de Poker e não saber usar.

Pela entrevista coletiva ao final do jogo, senti que a nossa treinadora percebeu poderia ter feito melhores escolhas. Inclusive ter colocado Andressa Alves mais cedo no jogo.

Ainda assim, não podemos sair de Tóquio com a sensação de terra arrasada,  Pia deu ao Brasil uma consistência tática que nunca tivemos e com uma geração que não é tão talentosa, como de outras épocas.

Hora de olhar para o futuro, buscar investindo mais nas categorias de base e torcendo que depois dessa evolução tática, o Brasil possa crescer tecnicamente. Se não teremos mais a gigante Formiga, vi o surgimento de uma Angelina, que joga de cabeça erguida e trata a bola com muito carinho, nos dá esperança.

Marta merecia essa medalha! Não veio, mas o legado desses jogos pode ser eterno, porque o Brasil agora ao menos tem um projeto para o futuro, com assinatura, alma e coração da nossa capitã sendo o combustível para o que vem pela frente.

Essa derrota doeu, mas diferente das outras, hoje conseguimos olhar para a frente e acreditar que o futebol feminino começa a ter o tratamento que merece. Muito mais que times campeões, queremos que as milhares de jovens Martas que existem Brasil afora, possam ter uma vida melhor. Convenhamos, isso vale muito mais do que qualquer medalha olímpica.

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