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Maceió/Al, 26 de abril de 2024

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Roberto Boroni Roberto Boroni
Jornalista de formação e que tem a crônica esportiva no coração. Ex-assessor de comunicação do CRB, Vivi de perto a Série B para saber que ela pode ser tudo, menos fácil!
06/08/2021 às 09:21

Mídias sociais estragaram, e muito, o relacionamento do torcedor com o futebol

Desde de início, já deixo claro que não é culpa das mais variadas ferramentas de mídias sociais utilizadas por nós atualmente. O problema está na forma que o ser humano, em especial o brasileiro, lida com questões que andam de mãos dadas com competições esportivas: derrotas e zoações.

Tive a honra e orgulho de ser assessor de comunicação do CRB por quase cinco anos. Quem trabalhar com o futebol tem que conviver com gerenciamento de crises eternas, já que o nosso público alvo, o torcedor, é um insatisfeito contumaz. Todos os clubes precisam ganhar, ganhar e ganhar de novo, senão todos rapidamente se transformam em incompetentes, corrutos e sem caráter. O que é uma pena.

Com o crescimento da utilização de diversas ferramentas de mídias sociais, hoje o torcedor interage muito mais com o seu clube do que na minha época de quando jovem, onde praticamente vivia no Rei Pelé. Esta massificação na interação, infelizmente é marcada mais por xingamentos, reclamações e acusações. Se um clube viver má fase, pode postar qualquer coisa, campanha contra fome ou parceria para achar pessoas desaparecidas, ações que sempre devem ser feitas, mas que no Brasil nunca é abraçada se o seu time estiver perdendo, pois vai provocar interações que chegam a constranger quem lê e inibem os que porventura gostariam até de apoiar. O torcedor só abraça vitória, derrota nem pensar e os clubes, que não podem parar de postar, ficam contra a parede.

E outra, a relação do torcedor com o jogo no estádio, na época que os jogos tinham público, mudou radicalmente. Vejam bem, nos anos 90, se o seu time perdesse para o rival e você quisesse se “esconder” de qualquer provocação, você conseguia, era só ficar em casa, ninguém te achava não. Nada de celular ou de mídia social para alguém zoar de você, era só sumir da vista. Hoje, seu time leva o gol e você já recebe a resenha em tempo real, não tem como evitar a provocação. No campo, isso mudou completamente a dinâmica do torcedor com o seu time durantes os jogos, porque a paciência só dura uns quinze minutos, porque o cara quer devolver as provocações que está recebendo. Sem contar, que antigamente tudo mundo lidava bem melhor com a derrota e o convívio com os rivais, antes torcidas de CRB e CSA entravam pelo mesmo portão, hoje não podem chegar pela mesma avenida.

Não é incomum vermos comentários do tipo “Meu clube está me fazendo passar vergonha” ou “Não aguento mais ser zoado”. O problema não é mais o time perder, e sim ele está sendo zoado pelo rival, isso sim é imperdoável.

Nossos clubes fazem excelentes trabalhos em seus setores de marketing e comunicação. Por melhor que o façam, a cada nova derrota é preciso conviver com uma energia negativa que sempre superam e muito o engajamento nas postagens de quando o time ganha. Como seria bom se os torcedores engajassem igual nas vitórias como nas derrotas, mas isso é quase uma utopia.

Muito disso porque, sem dúvidas, a crítica une bem mais do que o elogio.  Se você criticar algo nas mídias sociais, vai receber logos depois comentários do tipo “perfeito”, “ era isso que ia falar meu irmão” ou “todo mundo ver isso menos o nosso clube”. Se você fizer um elogio, preparasse para brigar firme para defender o elogio que você fez, e isso em muitos casos faz quem quer elogiar se segurar. Sem contar também, que quando o time ganha o torcedor passa mais tempo nos grupos mistos mangando do rival, do que interagindo com sua própria torcida.

E isso não é só no futebol não, em grupos de seriados de TV, programas de culinária, reality shows, games, entre outros, o que vemos é um campo de guerra. Hoje, o esporte favorito do brasileiro é cancelar algo ou alguém, não importa se o cancelado é o seu clube, o fundamental é você mostrar que sabe bem mais do que quem está lá, são todos uns incompetentes.

Em um País onde a Educação é um grande problema, sendo a raiz principal de sermos uma sociedade onde quase ninguém respeita o direito do próximo, vamos seguir vivendo quase reféns de um modelo onde se você não ganhar, você será um mix de incompetente e mau caráter.

CSA e CRB hoje representam com dignidade e muito trabalho o futebol alagoano nas principais competições do País, sendo exemplos de administração nos últimos anos, mas se você der uma passeada em suas mídias sociais e não entender nada de futebol, vai achar que eles estão entre os piores do Brasil, já que nada parece prestar.

Espero de coração, que a saudade que todos estão de ver o jogo do seu time faça com que, quando o futebol volte a ter público (e não está na hora para isso ainda) o amor pelo clube fale um pouco mais alto e o torcedor consiga curtir o quão gostoso é ver um jogo de futebol no Estádio.

Neste ponto, minha geração aproveitou bem mais! Futebol era diversão, hoje é tensão e alivio em cada vitória! 

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